Por: Felipe Marques
Quem toma um crédito para comprar um carro hoje costuma pegar emprestado, em média, R$ 24,75 mil, a serem pagos em 40 meses. Só financia quem der uma entrada de 40%, em geral, com uma taxa de juros que fica em torno de 21,2% ao ano. Como os bancos definiram esses parâmetros? É uma pergunta que dois estudos recentes, um do Insper e outro feito por funcionários do Banco Central (BC), tentam, em parte, responder.
A pesquisa do Insper, assinada por Rodrigo Moita e Daniel Silva, tenta traçar uma correlação entre a dinâmica de competição no segmento de empréstimo para autos e a formação das taxas de juros. Usando modelos matemáticos, com base em dados do BC, constatou que é um mercado com bancos líderes, que definem a referência de taxas, enquanto os demais os seguem. Mais curioso: entre os líderes, é o Bradesco o mais seguido, ainda que não seja o maior expoente na modalidade. A pesquisa observou dados diários de taxas de 33 instituições financeiras entre janeiro de 2009 e agosto de 2011.
De acordo com o levantamento, a cada aumento de 10% que o Bradesco faz no preço que cobra para emprestar, há uma reação em cadeia entre os demais bancos. O Itaú Unibanco – que lidera o segmento entre os privados – eleva seu preço em 2,6%; a BV Financeira, em 4,5%; o Santander, em 5,6%; e o dos bancos de montadora sobe 4,2%. Toda essa acomodação ocorre, em média, seis dias depois de o Bradesco elevar suas taxas.
“É difícil dizer por que é o Bradesco que lidera os aumentos se ele não é o maior do segmento. Será que ele se provou mais assertivo? Ou é um comportamento que se repete em outras modalidades? Ainda não está claro”, afirma Moita. Procurado, o banco não comentou o assunto. Um executivo da concorrência afirma que, embora acompanhe de perto as taxas dos rivais, não acredita que este ou aquele banco tenham um peso maior em sua decisão de juros.
No ranking de taxas do Banco Central, o Bradesco aparece hoje em duas posições: uma como Bradesco S.A., com taxa média de 1,69% ao mês, e outra como Banco Bradesco Financiamento S.A., com taxa de 1,56%. Santander e Itaú aparecem empatados, com 1,6%, e BV Financeira, com 2%. Apenas a título de curiosidade, a taxa mais cara é a da financeira Omni, que financia veículos usados cobrando, em média, 3,61% ao mês. As taxas dizem respeito ao período de 30 de dezembro a 6 de janeiro.
“O que constatamos é que, no crédito de veículos, alguns bancos definem as taxas e os demais seguem”, afirma o professor, embora pondere não haver indícios de que esse seja um movimento combinado. “Mantendo o custo de captação constante, se os bancos líderes mudam o preço, a grande maioria dos demais anda na mesma direção.”
Ainda que a concorrência discorde que o Bradesco lidere o movimento de taxas, há de se dar o braço a torcer que o banco tem história no segmento. No começo de 2002, a instituição fechou acordo com a Ford para atuar no financiamento de veículos da montadora e, em seguida, adquiriu a financeira Finasa, forte no segmento, junto com o Mercantil de São Paulo. No fim de 2002, o Itaú selou acordo semelhante com a Fiat. Embora tenha sofrido com a inadimplência na modalidade em anos recentes, o Bradesco também sentiu os efeitos dos calotes com menos intensidade que seus pares privados.
Se o estudo do Insper mostra que a concentração em poucos bancos do crédito de veículos cria uma “liderança” na definição das taxas, a concentração nos nomes tradicionais do segmento diminuiu nos últimos anos. A perda de espaço veio no rastro das medidas de 2010 que elevaram o custo para os bancos de fazer contratos mais arriscados (com prazos maiores). É uma das conclusões de estudo assinado por Tony Takeda e Paulo Dawid, funcionários do BC. O material está disponível no site da autoridade monetária, embora não reflita sua opinião institucional.
“Outra consequência importante do aumento das taxas de juros após dezembro de 2010 [quando o BC lançou as medidas] foi uma perda expressiva de participação dos bancos grandes no mercado de crédito automotivo”, escrevem os autores. O estudo mostra que os grandes bancos privados mais tradicionais no segmento, que representavam 81% do mercado em agosto de 2010, passaram para 61,2% em junho de 2012, perdendo espaço para os públicos.
“Contudo, nota-se sensível recuperação nos últimos meses da amostra, com a participação atingindo 68% em fevereiro de 2013. É notável o crescimento da fatia dos bancos públicos, com menos de 2% até novembro de 2011 e um pico de 12,2% em junho de 2012.”
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