Por: Thalyta Andrade

“Ela disse que teria vantagens, que não precisava pagar na hora, que seria só depois. Dei o número da minha identidade. Ela me falou que seria muito melhor e mais fácil para eu comprar. Mas, não sei dizer quais eram essas vantagens”, disse uma consumidora que preferiu não se identificar, após ser abordada por uma agente de vendas de uma loja de departamento, no centro de Dourados.

E não foi apenas essa pessoa que não soube explicar após ser abordada pelos agentes de venda e questionada pela reportagem do Dourados News, quais seriam especificamente as vantagens de ter um cartão de loja. Essa desatenção, segundo alertado pelo Procon, pode ser uma ‘armadilha’ perigosa ao consumidor, que muitas vezes repassam seus dados sem saber exatamente o que estão fazendo.

A estudante Luiza Freitas, 18, passou seus dados pessoais. “Não tenho cartão de loja, fiz mais para ajudar a menina no trabalho dela. Ela estava uniformizada então nem desconfio muito. Mas, eu sei que os juros e taxas são altos, nem vou comprar, pretendo quebrar o cartão quando chegar”, justificou a jovem.

Vendedor, Anderson Luiz Siqueira Santos, 18, sabe bem como funcionam as cobranças.

“Eu analiso tudo muito bem antes de fazer cartão, até porque sei como funcionam esses contratos, as taxas, então é importante sim prestar atenção, mas a verdade é que muita gente nem olha. Eu acho que existem vantagens sim, não é de todo ruim, mas tem que avaliar bem”, disse o rapaz. As taxas de encargos contratuais, encargos de parcelamento, anuidade, seguros, entre outras, podem acabar tornando a compra parcelada em pouco vantajosa, e quem não ‘percebe’, acaba se enrolando. Já que é atento a isso, procura evitar a adesão ou uso dos cartões.

“Estou há muito tempo sem usar nenhum dos meus três cartões de loja. Prefiro pagar as compras à vista, porque as taxas são altas e acabam não compensando. É muita conversa e pouca vantagem quando a gente vai analisar”, avaliou a auxiliar de limpeza, Lucélia Pereira de Brito, 29.

A atendente Jaqueline Mariana Souza, 20, disse ao Dourados News que já teve mais de um cartão de loja, por ter sido conquistada pelas possíveis ‘vantagens’ na hora de comprar. No entanto, ela conta que com o passar do tempo percebeu que a incidência das taxas acabou fazendo com que o negócio não compensasse.

“A gente pega a fatura e é taxa disso, daquilo. Na hora que a gente faz o cartão nem se dá conta do tanto de taxa que vai vir junto da parcela. Por causa disso percebi que não compensa e acabo comprando à vista. Nem uso mais os cartões, larguei mão”.

O diretor do Procon em Dourados, Rozemar de Mattos, diz que não são muitas as queixas relacionadas a cobrança de taxas e mais taxas dos cartões de lojas. No entanto, ele ressalta que isso não significa que os abusos não aconteçam, e o cenário pode estar ligado justamente a falta de atenção.

“Cartão é uma coisa realmente complicada porque alguns consumidores tem controle sobre o que estão fazendo, mas a maioria não. As pessoas sequer ficam atentas aos contratos que assinam, o que é perigoso. Até chegam algumas reclamações com relação a taxas, mas não são muitas. Existe também o fato de que algumas pessoas se sentem lesadas, mas não formalizam a reclamação, o que é errado”.

Mattos explicou ainda, que as empresas de certo modo não agem de má fé, e sim se aproveitam de brechas na legislação vigente para impor taxas que lhes convém, e que na maioria das vezes estão discriminadas nos contratos que o consumidor não lê com atenção.

“É fato que as empresas aproveitam brechas na legislação para vender de uma forma na qual a incidência de juros a beneficie. Usam isso como estratégia comercial porque até hoje não temos no país uma regulamentação específica em cobrança de juros, então este tipo de cobrança é praticada livremente”, finalizou o diretor do Procon.

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