Depois de “limparem” carteiras, bancos privados voltam à briga por financiamento de veículos e consignado
Por: Ana Paula Ribeiro
Responsável por quase um terço das operações de crédito no país, os empréstimos para pessoas físicas feitos com recursos livres devem ser mais disputados em 2013. As instituições que enfrentaram problemas de inadimplência no ano passado, em especial na carteira de veículos, devem agora atuar com mais vigor, tentando recuperar parte do espaço perdido para os bancos públicos, mesmo considerando um cenário de alta moderada das taxas de juros.
Os recursos livres são aqueles que os bancos captam e podem destiná-los a qualquer modalidade de crédito. O estoque dessas operações a pessoas físicas era de R$ 697,7 bilhões ao final de janeiro, segundo divulgou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. O montante representa 29,5% do total de empréstimos do país. O volume também representa um crescimento de 0,8% em relação ao mês anterior e de 10% nos 12 meses encerrados em janeiro. Houve retração dos emrpéstimos para empresas e estagnação dos para pessoas físicas – a exceção foi o crédito consignado, cujas concessões cresceram 33% em um mês.
O consignado, junto do financiamento de veículos, são as duas carteiras mais representativas do segmento crédito livre, com estoques de, respectivamente, R$ 192,5 bilhões e R$ 193,5 bilhões. E foi justamente devido à estratégia adotada em relação a esses dois produtos que o Banco do Brasil (BB) conseguiu retirar do Itaú Unibanco a liderança no crédito a pessoas físicas.
No BB, esses créditos somavam R$ 142,37 bilhões em dezembro — empréstimos a pessoas físicas, com exceção de financiamento imobiliário, que é uma operação feita majoritariamente com recursos direcionados. Em seguida aparece o Itaú, com R$ 131,8 bilhões, seguido por Bradesco e Santander. A Caixa, por não incluir o financeiro imobiliário, aparece em quinto.
“A nossa expectativa é que deve haver uma retomada pelos bancos concorrentes devido à perda substancial de mercado. Eles devem retornar porque já passaram por uma revisão de carteiras”, afirmou Marelo Labuto, diretor de empréstimos e financiamentos do BB.
De fato, 2012 foi um ano de ajustes para os bancos que tinham volumes expressivos de financiamentos de automóveis, em especial devido à inadimplência nas operações feitas em 2010 e 2011. O próprio BB amargou perdas com a participação de 50% no banco Votorantim. Já no caso do Itaú, o total da carteira recuou quase 15%, chegando em dezembro a R$ 51,2 bilhões.
pesar de admitir que esse ano a concorrência será maior nessas linhas, Labuto afirma que o objetivo é manter a liderança. “Entramos para assumir a liderança e assim permanecer. Não temos motivo para entender que essa liderança será ameaçada”, explica Labuto, acrescentando que no caso do consignado, produto em que o risco é menor, o banco também é líder. E uma das razões para não sentir que a liderança estar ameaçada é o fato das instituições privadas continuarem com projeções de crescimento abaixo das entidades públicas.
O que determinará o apetite nesse segmento de crédito, segundo avaliação do analista da Austin Ratings Luis Miguel Santacreu, é o nível da taxa Selic. Se ela subir muito, os bancos devem colocar novamente o pé no freio para essas concessões. “O ponto é que quem capturou os ganhos no ano passado foram os bancos públicos, que reduziram os juros e aumentaram o volume”, avalia.
Além do efeito sobre as concessões, a expectativa de Selic em um patamar mais elevado já causou o aumento das taxas de juros. A taxa média para pessoas físicas com recursos livres era de 34,5% ao ano, alta de 0,6 ponto percentual em um mês. O spread é responsável por 26,1 pontos dessa taxa. “O mercado futuro aponta aumento dos juros. Os bancos já estão trabalhando com isso”, afirmou Waldir Kiel Junior, economista da Hencorp Commcor.
Colaborou Lucas Bombana
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