O mercado de crédito bancário registra uma deterioração mais rápida do que a antecipada, com queda na taxa de expansão das carteiras de empréstimos, alta nos juros cobrados pelas instituições financeiras e um leve aumento na taxa de inadimplência de pessoas jurídicas. Em parte, esse era um desdobramento esperado, dado o forte aperto monetário patrocinado pelo Banco Central. Mas a sua velocidade e amplitude preocupam porque o crédito bancário foi um dos principais fatores de sustentação do consumo e dos investimentos na economia nos últimos anos.
O crédito bancário ficou praticamente estagnado em abril, segundo dados do Banco Central. O estoque total de empréstimos e financiamentos na economia aumentou apenas 0,1% no mês, comparado com março, chegando a um volume de R$ 3,061 trilhões. Em parte, o fraco crescimento reflete fatores meramente estatísticos. A apreciação cambial de março reduziu o valor de empréstimos bancários em dólar, que são contabilizados em reais nos balanços dos bancos. Sem ela, o crédito teria crescido entre 0,3% e 0,4%, segundo o Banco Central.
Ainda assim, a desaceleração é bastante acentuada, comparando com o avanço já modesto de 0,7% observado entre março e abril de 2014. Nos dados acumulados em 12 meses, houve recuo na taxa de expansão, de 11,1% para 10,5%, entre março e abril. Com isso, em termos anualizados, o crédito já cresce abaixo do percentual de 11% projetados pelo Banco Central para este ano.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, disse na semana passada que a perda de fôlego do mercado de crédito em abril se deve ao aperto monetário e à queda no apetite dos bancos para oferecer crédito e dos clientes para se endividar.
Os juros básicos da economia subiram, por enquanto, seis pontos percentuais desde abril de 2013, pressionando os custos de captação dos bancos. As instituições financeiras, por outro lado, recompuseram as suas margens brutas, ao mesmo tempo em que restringiram a oferta de crédito.
Com isso, os juros médios cobrados pelos bancos nos empréstimos com recursos livres subiu de 30,6% ao ano em março de 2013 para 41,8% ao ano em abril de 2015. Já o “spread” bancário, que é a diferença entre os custos de captação de dinheiro dos bancos e os juros cobrados dos clientes, saltou de 22,3 pontos percentuais (pp.) para 29,3 pontos.
Uma parte da alta dos “spreads” cobre riscos maiores de inadimplência. Em abril, a taxa de inadimplência do sistema bancário subiu para 3%, ante 2,8% em março. Maciel ponderou, em entrevista para explicar os números, que esse dado isolado é insuficiente para determinar uma tendência de deterioração. Ainda assim, é um mau sinal o avanço da inadimplência no crédito a empresas, cuja taxa aumentou de 2,1% para 2,3%, sobretudo porque a deterioração foi disseminada por várias linhas de financiamento, incluindo capital de giro.
Na alta dos “spreads”, há também uma tendência natural de recomposição de lucratividade pelas instituições financeiras, depois que os bancos públicos esgotaram a sua estratégia de praticar juros baixos para forçar a competição no sistema.
As perspectivas para esse trimestre não são das melhores, conforme apontou a pesquisa de condições do mercado de crédito conduzida pelo Banco Central.
O indicador que mede a disposição dos bancos em emprestar para grandes empresas neste segundo trimestre ficou negativo em 1,13, numa escala cujo valor mais baixo é menos 2. É possível que o pouco apetite dos bancos esteja relacionado aos riscos criados pela Operação Lava-Jato. No caso do indicador que mede a disposição de consumidores para se endividar, o indicador encontra-se negativo em 0,57, certamente refletindo uma postura mais cautelosa das famílias diante dos sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho.
O volume de crédito na economia cresceu fortemente nos últimos dez anos, passando de cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) para 54,5% do PIB em abril passado, num bem-vindo movimento de aprofundamento do mercado bancário no Brasil. Não se pode imaginar que pudesse seguir patamares de crescimento superiores a 40% ao ano. Mas não seria desejável uma queda tão forte como a que vem ocorrendo, pelos riscos que cria à atividade econômica, que já apresenta baixo dinamismo.
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