Por Carolina Mandl
Cerca de 18% das dívidas de consumo que as famílias têm hoje foram tomadas no cartão de crédito. É o que mostram os dados divulgados ontem pela primeira vez pelo Banco Central (BC). São R$ 126,29 bilhões que foram usados pelos consumidores para comprar bens e serviços via cartão.
Apesar de caracterizar uma operação de crédito, a maioria dessas transações não sofre incidência de juros. Os números do BC apontam que R$ 91,86 bilhões são de compras feitas dentro dos até 40 dias sem juros ou no parcelamento sem juros.
Só os demais R$ 34,42 bilhões é que pagam juros – seja porque as pessoas entraram no rotativo do cartão, seja porque optaram pelo parcelamento de compras com juros. O rotativo abocanha cerca de R$ 25 bilhões disso, um estoque que tem se mantido estável nos últimos 12 meses.
Segundo cálculos de um executivo de um banco privado, pelo menos R$ 60 bilhões do estoque de crédito do cartão fazem parte do universo do parcelamento sem juros, uma anomalia da indústria brasileira de cartões. O volume supera o saldo de transações no cheque especial, que é de R$ 20,16 bilhões.
Essa massa de recursos precisa ser financiada por um volume muito menor de recursos que está no rotativo do cartão de crédito. Por isso, segundo os bancos, os juros cobrados de quem não paga a fatura em dia é tão alto.
Para tornar a equação ainda mais difícil, quem entra no rotativo tem um risco elevado de não sair dele. Dados do BC mostram que o índice de inadimplência acima de 90 dias nessa modalidade de crédito era de 36,6% em janeiro. É a maior taxa entre todas as categorias de crédito no país.
Agora, a indústria de cartões debate em busca de uma solução que faça as contas fecharem sem sobrecarregar quem entra no rotativo. Em agosto do ano passado, o Itaú Unibanco decidiu lançar um cartão de crédito inspirado no modelo americano. Quem não quita a fatura em dia tem de pagar juros retroativos ao dia da compra. São juros menores do que no cartão de crédito tradicional.
Hoje, o Itaú tem 500 mil cartões emitidos, um universo ainda pequeno dentro dos 33 milhões de plástico que emitiu. A experiência, porém, tem sido considerada bem sucedida pelo banco para o pouco tempo que possui.
Além da possibilidade de os demais bancos seguirem o Itaú, a indústria discute formas de restringir as operações do parcelamento sem juros. Mas essa é uma alternativa que enfrente resistência do lado do governo, já que poderia desaquecer o consumo no país.
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.