Por: Fernando Torres
A incorporação de milhares de clientes sem histórico de relacionamento bancário, atraídos pelas menores taxas de juros do mercado, provoca uma mudança no perfil do tomador de crédito da Caixa Econômica Federal.
Embora a instituição surpreenda ao conseguir expandir sua carteira de crédito num ritmo anual acima de 40% e ainda manter os índices tradicionais de inadimplência (acima de 90 dias) baixos e controlados, em torno de 2%, é possível notar uma lenta, silenciosa e por enquanto leve piora na “parte boa” da carteira de empréstimos da instituição.
A mudança se dá pela expansão da carteira com classificação de risco C, último degrau de risco baixo dentro da escala do Banco Central. Essas notas (ou ratings) dependem do perfil do tomador, da política de crédito do banco e também de atrasos efetivos identificados. No caso da Caixa, o crescimento é atribuído à prudência do próprio banco, ao analisar o perfil da nova clientela.
Mas existe também aumento do percentual de atrasos nessas operações. Os créditos com algum tipo de atraso dentro do rating C representavam 4,8% da carteira total de empréstimos da Caixa em setembro de 2012, ante um índice de 2,6% no fim de 2009.
A instituição estatal nega, entretanto, que essa mudança dentro da carteira “boa” seja um sinal antecedente de piora da inadimplência, que castiga os balanços de concorrentes, mas não a afeta. “Não consideramos relevante ou preocupante, embora os índices sejam acompanhados mensalmente”, disse Rauelison Muniz dos Santos, diretor executivo de riscos da Caixa, ao ser questionado sobre o tema.
Analistas e banqueiros costumam classificar os empréstimos com ratings no intervalo de AA a C como de boa qualidade, restando como problemáticas as operações identificadas como de D a H. Por esse último quesito, pode-se dizer que os indicadores da Caixa “vão muito bem, obrigado”. A fatia de D-H, que reúne os empréstimos de até três anos com atraso acima de 61 dias e empréstimos mais longos com atraso acima de 121 dias, está em torno de 8% desde 2009.
Mas se a carteira C representava 12,3% dos empréstimos da Caixa no fim de 2009, em setembro de 2012 ela passou a responder por 17,3% do total de financiamentos. Em termos nominais, saiu de R$ 15,6 bilhões para R$ 57,1 bilhões em igual intervalo. Quando se olha dentro da carteira de C, nota-se que a parcela com curso anormal (atraso acima de 14 dias) atingiu 27,6% em setembro de 2012, ante 21,1% ao fim de 2009.
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