Uso do talão despencou 62% em uma década, mas valor médio movimentado é 10 vezes maior que cartão de crédito
O uso do cheque no País despencou 62% nos últimos dez anos. Só em 2013, a queda foi de 8,31%, segundo a Serasa Experian. Mas dados do Banco Central (BC) apontam que este declínio não vai decretar a morte do talão: embora as transações tenham caído, o valor médio quase dobrou em cinco anos, o que indica uma mudança de perfil.
Especialistas afirmam que o cheque tem deixado de ser usado para a aquisição de bens e serviços de menor valor, para servir como instrumento de crédito em pagamentos maiores – especialmente aqueles que ultrapassam o limite do cartão. Não por acaso, em torno de 80% dos cheques emitidos no País são pré-datados, de acordo com a Abracheque.
A imposição de um limite do cartão pela renda individual coloca o cheque como opção mais acessível de crédito ao público de baixa renda, já que o limite é estabelecido pelo rendimento familiar, afirma o presidente da Telecheque, José Praxedes.
“Enquanto houver essa restrição, o talão será um grande aliado no acesso ao crédito para as classes mais baixas”, diz. Isso explicaria porque, mesmo com a cômoda tecnologia dos cartões atuais, o talão ainda resiste.
Para o economista Flávio Calife, da Boa Vista Serviços, o cheque ganha mais importância em períodos de alta da taxa Selic, quando as restrições ao crédito aumentam.
“Ainda é muito cedo para dizer que o cheque vai acabar. Ele tem essa função”, diz.
Gasto médio com talão é dez vezes maior que com cartão
A quantidade de cheques emitidos caiu de 2,5 bilhões em 2005 para 1,6 bilhão cinco anos depois, passando a representar 8,71% de todas as formas de pagamento. Juntos, os cartões de crédito e débito representavam 32% em 2010 (último dado disponível) – mas o valor das transações era bem menor.
Entre 2005 e 2010, o valor médio das operações com cheque subiu de R$ 558 para R$ 1.003, uma variação de 80%, de acordo com o BC – enquanto no cartão de crédito cresceu apenas 27% no mesmo período, para R$ 99.
MEIOS DE PAGAMENTO
Valor médio de transação em cada instrumento
Essa tendência é reflexo do fim da inflação elevada, há duas décadas, o que permitiu o avanço de novas linhas de crédito e a bancarização das classes mais baixas, acredita o economista da Serasa, Luiz Rabi.
“Antes, o cheque era usado para todo tipo de pagamento. Mas de 2005 para cá ele caminha para sua função original, de financiar compras de maior valor a prazo, como um carro ou aluguel”, exemplifica.
Cheque é o primeiro sinal de alta da inadimplência
A queda gradual no uso do cheque acompanhou, também, um aumento no percentual de cheques devolvidos – principalmente por falta de fundos. A proporção a cada mil compensados disparou de 1,4 em 1993 para 15,3 em 2005, segundo dados da Serasa – e tem oscilado em torno deste patamar até 2014.
Para Rabi, a proporção de cheques devolvidos subiu muito até 2005 justamente porque o talão passou a ser usado menos como forma de pagamento e mais como crédito. Desde então, a média de inadimplência com cheques tem ficado em torno de 1,9% nos meses de janeiro.
Em 2014, contudo, esse percentual atingiu 2,07% – o valor mais alto de inadimplência com cheques para janeiro desde 2009 – de acordo com o indicador da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
O resultado surpreendeu após a queda na inadimplência observado ao longo de 2013, explica Calife.
“Ainda é muito cedo para identificar se a causa desse aumento foi apenas sazonal [tradicionamente, o calote sobe no início de ano]”, ressalva.
O alerta é aceso porque, quando a inadimplência sobe no País, o talão é o primeiro dar o sinal.
“A inadimplência com cheque é sentida primeiro porque a devolução de um documento sem fundos é automática nos bancos”, explica o economista da Boa Vista.
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