A deterioração das finanças das companhias brasileiras levou o Bradesco a separar mais recursos para perdas com crédito. Em relatório a investidores, o banco diz ter expectativa “de perda de determinadas operações com clientes corporativos”. O reflexo disso foi o aumento de 25,1% nas despesas com provisão para créditos de liquidação duvidosa no primeiro trimestre, a R$ 3,58 bilhões, na comparação com igual período de 2014. Em relação aos últimos três meses do ano passado, o crescimento foi de 8,3%.
A reserva de mais recursos para cobrir calotes não impediu, porém, que o lucro do segundo maior banco privado do país crescesse 23,3% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 4,24 bilhões. Em três meses, a variação foi de 6,3%. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 22,1%.
O Bradesco piorou a classificação de risco de uma série de empresas, conforme informações das demonstrações financeiras. Ao serem rebaixadas, essas operações passaram a exigir que o banco separasse de 30% a 100% do valor delas para eventuais perdas, seguindo regras do Banco Central (BC). Os créditos para pessoas físicas não sofreram alterações.
Em termos percentuais, a piora foi mais acentuada em pequenas e médias empresas. Nessa carteira, 7,3% estavam classificadas entre “E” e “H”, ante 7% no quarto trimestre e 6,4% no mesmo trimestre de 2014. Pelas normas do BC, os bancos precisam classificaras operações por níveis de risco que vão de “AA” a “H”, sendo que as provisões exigidas vão de zero a 100%, respectivamente.
Na carteira de grandes empresas, 1,7% das operações estavam na categoria entre “E” e “H” no primeiro trimestre, ante 1,5% nos três meses anteriores e 1,1% no mesmo período do ano anterior.
Por enquanto, a piora da qualidade dos créditos do banco foi insuficiente para mexer de forma mais significativa com o índice de inadimplência do Bradesco. O indicador de atrasos ficou em 3,6%, com alta de 0,1% sobre o trimestre anterior por causa do aumento dos atrasos nas carteiras de pessoas físicas e de micro, pequenas e médias empresas.
A inadimplência de curto prazo, de 15 a 90 dias, mostrou uma piora mais acentuada, de 3,6% no quarto trimestre de 2014 para 4,1%. O Bradesco atribui o movimento a uma questão sazonal e, em relatório, afirma que há a “probabilidade de retomada ao padrão histórico”.
Em teleconferência com jornalistas, Carlos Firetti, diretor de relações com investidores do Bradesco, afirmou que ao longo de abril o banco já percebeu um recuo do indicador.
Para alguns analistas, porém, os números do banco mostram uma mudança. “A qualidade dos ativos claramente mostrou sinais de enfraquecimento e deve levar ao aumento do custo do crédito daqui para a frente”, avaliou a equipe do Goldman Sachs em relatório. As ações preferenciais do banco recuaram 2,37% ontem na bolsa, ante um recuo de 0,87% do Ibovespa.
Apesar da perspectiva de piora da saúde das empresas, foi justamente o crédito para grandes companhias que puxou o aumento da carteira do Bradesco no primeiro trimestre. A exposição do banco à Petrobras, por exemplo, cresceu R$ 667,7 milhões, a R$ 7,5 bilhões, de acordo com os dados do balanço.
A desvalorização do real no começo deste ano colaborou para a expansão do saldo para empresas de grande porte, além do financiamento imobiliário. A carteira expandida – que inclui fianças, avais e debêntures – cresceu 1,8% em relação ao fim do ano passado e 7,2% em 12 meses, atingindo R$ 463,3 bilhões.
As operações a grandes empresas subiram, respectivamente, 4,6% e 10,4%. Para as pessoas físicas, o estoque de crédito aumentou só 0,4% no trimestre e 7,1% no acumulado de 12 meses, com destaque para financiamento imobiliário, crédito rural e consignado. O Bradesco registrou um lucro maior no trimestre graças a uma combinação de outros fatores.
Spreads mais elevados, por exemplo, serviram para compensar as provisões. O banco mostra que o spread bruto de crédito (a diferença entre o custo de captação e empréstimo) subiu 0,6 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre de 2014, para 7,5%. Além disso, o Bradesco teve um ganho de R$ 1,6 bilhão com a tesouraria, cifra R$ 860 milhões maior do que em iguais três meses do ano passado. Com isso, essa área correspondeu a 10% do resultado do banco, ante 8% no trimestre anterior.
Em tempos de inflação alta, o controle dos custos também teve seu papel. As despesas administrativas e de pessoal alcançaram R$ 7,1 bilhões de janeiro a março, queda de 9,6% em relação aos últimos três meses de 2014 e aumento de 4,7% ante o primeiro trimestre de 2014. No acumulado de 12 meses, a inflação medida pelo IPCA foi de 8,1%. No acumulado de um ano, o quadro de funcionários do banco encolheu 4,6%, com 94.976 funcionários.
Isso representou uma redução de 4.569 trabalhadores. Os números apresentados levaram o J.P. Morgan a saudar o controle de despesas. “No geral, nossa primeira impressão está entre mista e positiva, dado que a pressão sobre custos de crédito apareceram, mas a expansão da margem financeira e a gestão das despesas permitiram resultados saudáveis”, escreveram os analistas. Colaborou Felipe Marques.
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