A Boa Vista Serviços divulgou uma pesquisa sobre perfil dos devedores mostrando a ampla e disseminada inadimplência no país, principalmente entre as classes de renda mais baixa. Os números são um forte argumento a favor do cadastro positivo — banco de dados com informações de adimplemento para formação de histórico de crédito — sair do papel. Após ser aprovado no ano passado, sob a forma da lei 12.414, o projeto é agora discutido nos órgãos competentes e, posteriormente, sua regulamentação deve ser aprovada pela presidenta.
Os 35 milhões de consumidores que tiveram acesso ao crédito pela primeira vez nos últimos anos, predominantemente enquadrados na classe C, enfrentam agora dificuldades para tomarem mais crédito, devido ao descontrole, aponta pesquisa do bureau de crédito.
A pesquisa, feita com mais de 1,3 mil consumidores, mostra que a classe C é a que apresenta o maior grau de endividamento, e também o maior número de inadimplentes. São 23% com o nome sujo, enquanto são 21% na classe D e E. Na classe B, o índice cai para 13%.
Temendo o risco maior de inadimplência, os bancos reduziram a concessão, o que desacelerou a inclusão de novos consumidores no sistema de crédito. A expectativa da Boa Vista é que o cadastro positivo possa evitar essas exclusões.
A pesquisa aponta mitos, como o de que consumidores de baixa renda pagam suas contas em dia e têm renda volátil e analisa que, ao contrário do senso comum, há a intenção de poupar caso haja renda extra.
Na classe C, 60% têm dívidas, e para 45% é difícil quitá-las, e 63% não poupam e apenas 22% olham para os juros na hora da compra. Por outro lado, 47% apontam que sua renda não varia e 42% varia pouco, e 38% pouparia mais caso tivesse uma renda extra. Para incluí-los, seria importante poder diferenciar bons e maus pagadores. “Ainda não podemos dizer que a oferta de crédito é flexível. Ela é padronizada. Hoje as taxas de risco são trabalhadas sem recortes”, diz Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços. Na sua opinião, os bancos necessitam cada vez mais de estatísticas específicas e inteligência de mercado para analisar o comportamento do tomador de crédito, principalmente entre os novos consumidores. “A oferta de crédito cresce 35% para o bom cliente e 10% para o novo consumidor, sobre o qual os bancos não têm informação. A queda de juros por si só não irá mudar este panorama. O Cadastro Positivo seria um instrumento mais justo.” Associações de consumidores estão preocupadas com o uso que se fará dos dados de consumidores no Cadastro Positivo, o que cria resistência entre as instituições bancárias para que a regulamentação da lei seja aprovada.
“Em outros países a lei de proteção dos dados foi aprovada antes. Aqui, isso não aconteceu. Houve uma tentativa de retirar a responsabilidade dos dados de quem concede o crédito, mas isso foi vetado”, diz Maria Elisa Novais, gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
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