Inadimplência leva a corte nas projeções de empréstimos para 2014
Por: Ronaldo D’Ercole
A forte queda na inadimplência dos empréstimos bancários ao longo de 2013 não deve mudar a postura cautelosa das instituições financeiras na concessão de crédito. Com a competição mais acirrada em linhas de menor risco, como o crédito consignado e o imobiliário, e o menor apetite para financiar o consumo, os bancos reduziram as projeções de expansão dos empréstimos.
O Banco do Brasil, que em 2013 esperava alta entre 17% e 21% na carteira de crédito, este ano baixou para 14% a 18%. O Bradesco aposta em alta de no máximo 14%, e o Itaú Unibanco, de 13%. No ano passado, o crédito no sistema bancário como um todo cresceu 14,8%, distante dos 20,56% de 2010, e dos 30,7% registrados em 2008.
— Os bancos privados tiveram quedas muito fortes na inadimplência (no Itaú caiu de 4,8% para 3,7%, e no Bradesco, de 4,1% para 3,5% em 2013) e devem manter o foco no baixo risco, porque deve haver melhora ainda na inadimplência — diz Ceres Lisboa, analista sênior da Moody’s para o setor de bancos.
Inadimplência cai devagar
A alta das taxas de juros, o endividamento das famílias, a inflação persistente e a economia fraca são fatores que limitam o espaço para novas quedas no calote, pondera a analista.
Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, que tem um indicador que mostra as tendências da inadimplência, confirma que o ritmo de queda perde fôlego. E dá alguns sinais de que pode subir entre as empresas.
— No crédito ao consumidor, o ritmo de queda da inadimplência está diminuindo. Era de 12% em outubro, foi a 6,5% em dezembro, e a 4% em janeiro. Sinal de que, muito provavelmente, vai parar de cair. Mas subir, só se houver deterioração no mercado de trabalho, que é pouco provável — afirma Rabi.
Segundo dados do Banco Central (BC), o pico da inadimplência ocorreu em outubro de 2012, quando índice atingiu 3,87%. Em dezembro, a taxa era de 3% e ficou estável em janeiro. Esse índice combina o calote nas linhas de consumo e nas do crédito direcionado, como agrícola e imobiliário, em que as taxas de inadimplência são muito baixas. Em janeiro, o calote atingia 0,4% dos créditos direcionados a empresas, enquanto para pessoas jurídicas os atrasos superiores a 90 dias atingia 1,6% dos contratos.
Mais criatividade no mercado
O nível do calote no crédito ao consumo é bem mais alto. Era de 8% no fim de 2012, e recuou a 6,6% neste início deste ano.
Boa parte dessa queda deveu-se às políticas mais restritivas adotadas pelos bancos na concessão de linhas voltadas ao consumo, como veículos e Crédito Direto ao Consumidor. No Itaú Unibanco, por exemplo, enquanto a carteira de crédito total cresceu 11,7%, os empréstimos consignados avançaram 66,6% e os imobiliários, 34,1% no ano passado. No Bradesco, a carteira cresceu 10,8%, contra 47% do consignado e 36,2% do imobiliário.
Para a analista da Moody’s, consolida-se um novo cenário no país, em que o financiamento ao consumo perde espaço para os empréstimos de menor risco. Reforça essa constatação o fato de o lucro dos grandes bancos ter voltado a crescer em 2014. Juntos, os ganhos de BB, Itaú, Bradesco e Santander (a Caixa Econômica Federal ainda não divulgou seu balanço) somaram R$ 45,6 bilhões em 2013, 14,3% mais que em 2012, quando lucraram R$ 40 bilhões, de acordo com a Austin Rating.
Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Rating, concorda que há um ajuste tanto na oferta, com os bancos mais cautelosos, como na demanda, já que os consumidores têm limitações para contratar.
— Este é um ano eleitoral, os juros estão altos e há mudanças nos EUA e incertezas no câmbio. Não se pode esperar um salto como o dos últimos anos nas carteiras. Os bancos terão de ser criativos para achar nichos de oportunidades no mercado.
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