A expansão do crédito bancário se consolida em patamares mais moderados neste começo de ano, deixando para trás uma trajetória de crescimento claramente insustentável. A análise mais detalhada das estatísticas, porém, mostra um desequilíbrio entre a oferta de crédito de bancos públicos e privados, levando a um indesejável acúmulo de risco nas instituições oficiais.
Segundo a nota de política monetária e operações de crédito, divulgada na sexta-feira pelo Banco Central, a carteira de crédito do sistema financeiro apresentou crescimento de 16,7% no período de 12 meses. É o sétimo mês seguido em que a expansão do crédito se situa no patamar entre 16% e 17%, em termos anuais, bem mais saudáveis do que percentuais que chegaram a 35% observados em anos anteriores.
A desaceleração no crescimento da oferta de crédito ocorre depois de o Banco Central adotar medidas macroprudenciais, a partir de fins de 2010, incluindo aumento dos compulsórios bancários e imposição de controles sobre ingressos de capitais estrangeiros no país que ajudavam a alimentar o sistema. Também resulta da correção dos excessos cometidos pelos bancos até meados de 2010, notadamente nos critérios relaxados de concessão de financiamentos para a aquisição de veículos, que levaram a um forte aumento na inadimplência.
Na análise agregada dos dados, os percentuais atuais de crescimento do crédito são suficientes para assegurar o aprofundamento do crédito na economia, já que o avanço está acima da taxa estimada de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) nominal deste ano. Isso não representa, por outro lado, maiores constrangimentos ao objetivo do Banco Central de fazer a inflação convergir à meta de 4,5% até 2014, pois a performance atual está em linha com um cenário de aumento também modesto da taxa de consumo.
Os dados desagregados, porém, revelam uma tendência preocupante: desde meados de 2012 os bancos públicos têm sustentado, praticamente sozinhos, o mercado de crédito. Suas carteiras, mostra a nota de política monetária e operações de crédito do Banco Central, cresceram 29% no período de 12 meses. Já os bancos privados tiveram expansão de apenas 7,1% no período.
É fato que a taxa de avanço da carteira das instituições privadas é muito lenta, fruto, entre outros fatores, do aumento da inadimplência. Não se pode negar o papel dos bancos públicos de, exatamente em momentos como esse, exercerem o seu papel anticíclico, garantindo um patamar mínimo de oferta de crédito na economia.
Ainda assim, o uso dos bancos públicos tem seus limites. Há quase um ano as instituições oficiais vêm mantendo patamar de expansão superior a 26% em 12 meses. Foram percentuais de aumento dessa ordem que levaram o Banco Central a impor medidas macroprudenciais para levar a uma desaceleração a níveis mais seguros. Hoje, os bancos públicos já representam 48,7% do mercado de crédito e, no ritmo atual, não seria exagero afirmar que o sistema caminha para uma estatização de fato.
Em que pese o fato de hoje a inadimplência em bancos públicos (de 1,9%) ser menor do que nos bancos privados nacionais (5%) e estrangeiros (5,6%), os riscos a que as instituições oficiais estão expostas crescem à medida que o ciclo de crédito atinge estágios mais avançados. Em decorrência da determinação da presidente Dilma Rousseff, há um ano, para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal liderarem a queda dos juros bancários, a margem financeira bruta dessas instituições caiu, reduzindo, assim, o espaço que teriam para absorver eventuais perdas de resultado no caso de um hipotético cenário desfavorável.
Embora os bancos privados tenham a característica natural de exacerbar os ciclos de retração, é inegável que há, nesse comportamento prudente, uma boa dose de sabedoria. O Banco Central inicia um novo ciclo de aperto monetário, cujas repercussões não podem ser medidas em todas as suas dimensões neste momento. Os riscos, nessa conjuntura, se amplificam, e a margem para eventuais erros é menor.
É importante que os bancos públicos se façam presentes para suavizar o ciclo que se avizinha, mas não para eliminá-lo.
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