Por: Alessandra Taraborelli
A retração verificada e projetada pelo Banco Central na totalidade das concessões de crédito no País está passando ao largo do consignado, que mantém taxas de crescimento anual de dois dígitos. Segundo os dados do BC, enquanto as concessões para carro desaceleraram, o consignado teve alta de 13,3% nos últimos doze meses até maio. Essa modalidade atrai os bancos em virtude do baixo nível de inadimplência, e o consumidor, pelas taxas de juro mais baixas entre as ofertas de crédito. O segmento continua sendo considerado relevante para os bancos, que terão que se esforçar para trazer novos clientes e manter o ritmo de expansão. Mas isso não assusta o setor.
O superintendente executivo de Crédito Consignado do Santander, Cezar Zanikian, destacou a relevância do segmento para o banco. “O produto tem um papel importante em nossa estratégia, por sua característica e capacidade de vinculação. Por isso, recentemente, reformulamos nossa estratégia comercial e passamos a ofertar o produto com maior foco na nossa rede de agências e representantes exclusivos do banco espalhados pelo Brasil. Desde então, já começamos a observar a evolução dos resultados em linha com os objetivos almejados”, afirmou Zabikian.
A superintendente financeira da Sorocred, Mary Helen Souto, também se diz otimista. Ela observa que embora o banco não tenha grande participação no segmento — que representa 8% do total da carteira de crédito, a Sorocred pretende ampliar a atuação nesta área. “Já estamos estudando algumas formas de trabalhar. Estamos com alguns projetos pilotos e estamos procurando um nicho que não tenha tanta concorrência. Esse produto é de nosso interesse e esperamos crescer nele a partir do próximo ano”, afirmou.
O Diretor Financeiro e de RI do Banrisul, João Gazzana, destaca o grande potencial a ser explorado. “Há espaço para crescer, mesmo que o ritmo seja um pouco menor”, disse. De acordo com ele, esse segmento foi bastante explorado pelos bancos em razão, principalmente, do baixo nível de inadimplência. Vários clientes que tomaram esse empréstimo há alguns anos, ainda estão pagando as prestações, já que o prazo dessa linha pode chegar a 60 meses. A regra bancária diz que o cliente só pode comprometer até 30% do salário. No entanto, se o cliente pagar parte da dívida terá disponibilizado um porcentual e poderá voltar a contratar um novo empréstimo.
Atrair clientes novos é o grande desafio dos bancos, avalia o analista de Instituições Financeiras da Austin Rating Luis Miguel Santacreu. “Esse produto foi bastante propagado pelos bancos, com amplas campanhas de marketing. Agora, o desafio é capturar novos clientes”, disse. Santacreu lembra que o produto deixou de ser apenas um produto, para se tornar o “queridinho dos bancos”. Mesmo diante do novo desafio, Gazzana está otimista e espera uma expansão de 12% no crédito consignado este ano, um pouco menor do que a registrada em 2013, de 14% a 15%.
O diretor da Financeira Consignado do Daycoval Nilo Cavarzan ressalta ainda que por ser um produto com baixo risco de inadimplência, o banco se sente seguro para crescer num período em que a economia não está boa. “Como parte de sua estratégia de negócios, o banco busca sempre uma diversificação de carteira. Sem dúvida, o crédito consignado é muito importante para esse sucesso e responde hoje por 36% de nossa carteira. É um produto que vem crescendo mês a mês em resultados e importância para o Daycoval. É um mercado com menos competidores, mas os competidores são de peso (bancos grandes)”, afirma Cavarzan.
Mary observa ainda que a falta de regulamentação para os correspondentes bancários era um problema, já que permita que esses parceiros levassem o crédito deum banco para outro sem nenhuma restrição. Hoje, coma portabilidade, que entrará em vigor no início de janeiro, segundo ela, isso vai acabar. Com a nova regra, o banco A terá cinco dias para fazer uma oferta ao cliente que queira levar sua dívida para o banco B. “Com os correspondentes legalizados, os bancos terão mais poder de negociação junto aos seus clientes”, afirma.
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