Por Felipe Marques e Carolina Mandl
Repleto de incertezas, 2014 dá pouca margem de erro para os bancos quando o assunto é crédito. Se na pessoa física continuarão a apostar em modalidades de menor risco, no crédito a empresas devem olhar com lupa grandes operações, uma vez que a volatilidade do câmbio vem corroendo balanços das companhias e o setor de óleo e gás patina. Ainda assim, tanto bancos como economistas afirmam que os calotes não devem ser um problema tão agudo em 2014 como foi em períodos anteriores.
“Na pessoa física, o cenário ainda é positivo. Enquanto o desemprego continuar sob controle, não deve haver problema nessa área. Já na pessoa jurídica estamos mais cautelosos. Grandes operações serão avaliadas caso a caso”, afirma o executivo da área de crédito de uma grande instituição financeira de varejo.
Não que isso signifique que vá faltar crédito a grandes empresas. Bancos privados se preparam para aproveitar um eventual recuo dos públicos, em especial do BNDES, em operações corporativas. “O BNDES deve se voltar mais para os financiamentos de longo prazo. Outros tipos de negócios tendem a migrar para os privados”, prevê o diretor de um banco privado.
No crédito a pessoa física, a previsão é de um ano em que a inadimplência não deve reprisar a queda acentuada de 2013. O comprometimento do orçamento familiar com dívida continua alto, o que limita novos recuos dos calotes, afirma Alcir Freitas, analista sênior da Moody’s.
A elevação da taxa básica de juros neste ano também exercerá alguma pressão nos calotes, contrabalanceada pela mudança do mix de empréstimos dos bancos, privilegiando linhas com mais garantias. “É um cenário que os bancos privados estão mais bem preparados para lidar, já que há dois anos vêm adotando uma política mais restritiva de crédito”, diz Freitas.
A equipe econômica do Santander estima um crescimento de 13,8% no estoque de crédito em 2014, ante cerca de 14,5% em 2013. Para Maurício Molan, economista-chefe do banco, o ano deve trazer uma redução da assimetria de crescimento entre bancos privados e públicos, ainda que os públicos sigam liderando o crescimento dos empréstimos. Para Molan, a menor agressividade de bancos do governo em termos de taxas favorece um cenário de recuperação de margens no próximo ano.
A mesma visão é compartilhada por um executivo de um grande banco. “A pressão dos bancos públicos sobre as taxas já se reduziu muito. Por si só, essa recomposição dos spreads já abre espaço para os bancos privados participarem de alguns negócios”, diz o executivo.
Dados do Banco Central mostram que o spread de linhas de recursos livres para pessoas físicas ficou em 26,6 ponto percentual em novembro, com alta de 0,4 ponto percentual ante janeiro. Como um todo, porém, o crescimento de linhas como crédito imobiliário ou empréstimos do BNDES reduzem a taxa do estoque.
Já o vice-presidente de outra instituição privada se mostra mais cético sobre o recuo dos bancos públicos. “Em um ano de eleição, é difícil pensar que os bancos públicos não serão usados caso a economia não esteja crescendo”, diz.
Pelo menos no Banco do Brasil, porém, a desaceleração é realidade. Neste fim de ano, já é possível notar que o crescimento do BB no crédito vem desacelerando, principalmente na pessoa física. Nos últimos meses de 2013, o BB acumula uma expansão do crédito que está em torno de 20% a 21%, apurou o Valor. Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, a carteira de crédito ampliada do banco cresceu acima disso. Aumentou 22,5% no período em relação ao terceiro trimestre de 2012.
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