Para trazer o consumidor de volta às compras e reduzir a inadimplência, redes se movimentam para organizar os mutirões de renegociação
Por: Raquel Brandão
Com o orçamento cada vez mais apertado, o brasileiro colocou o pé no freio e reduziu o ritmo de consumo. Prova disso é a última pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostrando que o total de famílias endividadas caiu de 63,5% para 58,2% na comparação de setembro de 2015 e deste ano. Para trazer o consumidor de volta às compras e ainda reduzir a possibilidade de calote, grandes grupos de comércio varejista já começaram a temporada de mutirões de renegociação de dívidas, tradicionalmente promovidos a partir do mês de novembro.
Até 30 de outubro, a rede Casas Bahia, do grupo Via Varejo, promove o chamado “Feirão do Nome Limpo”, uma espécie de programação especial para que os consumidores negociem suas dívidas. Seis lojas foram destacadas para essa finalidade, quatro na capital paulista, uma na Grande São Paulo e uma em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Além delas, todas as lojas da rede podem receber clientes inadimplentes que queiram condições especiais para quitar débitos. De acordo com a empresa, “as negociações podem resultar em descontos de até 90% e a dívida pode ser parcelada em até 15 vezes sem juros, após análise caso a caso”. O feirão é exclusivo para consumidores que tenham aderido ao pagamento por carnê.
Do mesmo grupo, as lojas Ponto Frio não participarão do feirão, mas também estão instruídas a oferecer condições facilitadas de negociação. Lá, além de acordos para clientes do carnê – modalidade correspondente a 13,5% sobre a participação da receita líquida de vendas do Via Varejo –, quem está há mais de 10 dias inadimplente no cartão da loja pode parcelar o débito em até 36 vezes.
Outro grande varejista que deve anunciar até o final de outubro esquema especial para negociações com devedores é o Magazine Luiza. Atualmente, as lojas físicas e a central telefônica são os principais meios de negociação disponíveis para os clientes que tenham faturas em aberto no cartão da loja ou no carnê.
Sistema similar é oferecido pelas Lojas Colombo e pelo grupo Máquina de Vendas, dono da Ricardo Eletro, que promoveu recentemente feirões regionais junto com as associações comerciais locais, mas ainda não tem previsão de novas ações.
Para Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC, empresa que presta serviço de proteção ao crédito, os mutirões são uma boa oportunidade porque os credores estão mais abertos à negociação e podem oferecer grandes facilidades de pagamento. Ele alerta, porém, para alguns cuidados que devem ser tomados. “Na ânsia de quitar dívidas, o consumidor acaba aceitando qualquer proposta.”
Calife aponta que ao menos 50% das contas renegociadas voltam a ficar em situação de inadimplência após o pagamento das primeiras parcelas. “Não adianta se comprometer com um valor que pese muito no orçamento mensal. É preciso saber qual sua capacidade de pagamento.”
Além das opções oferecidas pelas varejistas, outros mutirões acontecem até o fim do ano. De 25 de novembro a 3 de dezembro, a Boa Vista SCPC reunirá em São Paulo e algumas cidades do interior consumidores e credores de diferentes segmentos para negociação.
Renegociação de dívidas
1. Vale a pena aproveitar os mutirões para negociar?
Sim. Durante essas ações, os credores costumam oferecer condições melhores de pagamento. De acordo com o educador financeiro Rafael Seabra, autor do livro Quero ficar rico, é possível conseguir descontos no saldo devedor e ainda reparcelar sem o acréscimo de juros.
2. Como definir o valor do pagamento?
Não existe um valor universal, mas o educador recomenda que não se comprometa mais do que 30% do orçamento mensal para o pagamento de todas as dívidas.
3. O que fazer se a negociação não for satisfatória?
Segundo Seabra, o ideal, neste caso, é buscar auxílio do Poder Judiciário, da Defensoria Pública ou do Procon.
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