Por: Felipe Marques, Talita Moreira e Vinícius Pinheiro
O Bradesco começou 2016 sentindo efeitos da crise que ronda as grandes empresas do país. Graças ao sufoco de um de seus clientes relevantes da área de óleo e gás, o segundo maior banco privado do país precisou gastar R$ 836 milhões para fazer frente a um possível calote. Mesmo com essa despesa, o lucro do banco ficou em R$ 4,113 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Embora o banco não tenha divulgado o nome da companhia problemática, apenas o setor de atuação, a aposta é que se trata da Sete Brasil, empresa fornecedora de sondas para a Petrobras, que pediu recuperação judicial neste mês. Se confirmado, dificilmente esse problema contaminará apenas os resultados do Bradesco. Os outros quatro grandes bancos de varejo têm níveis relevantes de exposição à empresa e podem precisar reforçar provisões já feitas para a Sete.
Pela primeira vez em dois anos e meio, o resultado do Bradesco ficou abaixo do que esperavam analistas. Segundo projeções coletadas pelo Valor, a expectativa era de lucro ajustado de R$ 4,365 bilhões. O retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio (ROE) caiu para 17,5% no fim do primeiro trimestre, o menor desde pelo menos 2007, quando começa a série de dados apresentada pelo banco. O indicador de rentabilidade estava em 20,5% em dezembro e em 20,6% em março do ano passado.
No trimestre, o banco gastou ao todo R$ 5,448 bilhões em despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), sinal de que está longe de ter somente a Sete Brasil como problema. A cifra cresceu 52,2% na comparação anual e 30% em relação ao último trimestre do ano passado.
O Bradesco estima uma despesa com provisão de R$ 16,5 bilhões a R$ 18,5 bilhões neste ano. “A PDD deve seguir dentro do guidance [projeção], mas talvez mais perto da banda superior”, disse Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do banco. Questionado, o executivo afirmou que não vê a necessidade de revisar a projeção agora.
“O custo do risco veio muito acima das expectativas, dado o provisionamento de um caso corporativo específico (muito provavelmente Sete Brasil). Mesmo descontando esse caso, as despesas de provisionamento subiram acentuadamente (10% na comparação trimestral”, escreveram os analistas do Credit Suisse em relatório. Sem essa provisão, eles calculam que a despesa de PDD do banco seria de R$ 4,6 bilhões.
Mesmo esse grande cliente problemático pode voltar a trazer perdas para o banco. Angelotti afirmou que essa empresa foi classificada em um nível que exige 70% de provisão do banco. “A partir daí, vamos avaliar se devemos ou não provisionar o restante”, disse a jornalistas. Ele não informou quanto o banco já havia provisionado para esse cliente. “Daqui para frente, situações desse tamanho não devem ocorrer todo trimestre, mas podem acontecer isoladamente”, disse.
A carteira de crédito do banco, no critério do Banco Central, encolheu 3,6% na comparação com dezembro, para R$ 353,7 bilhões. Chama a atenção a piora na composição desse saldo. As operações classificadas em “G”, que exigem 70% de provisão do banco, cresceram 81,1%, de R$ 2,1 bilhões para R$ 3,8 bilhões. Também cresceram as operações classificadas em “E”, que exigem 30% de provisão, que avançaram 26,4%, para R$ 4,8 bilhões.
Já o saldo da carteira do banco classificado entre “AA” e “C”, em que as exigências de provisão não passam de 3%, encolheu em R$ 14,3 bilhões no mesmo período. Essas operações foram distribuídas para as demais linhas. A escala criada pelo Banco Central (BC) vai de “AA”, em que não se exige provisão, até “H”, na qual a provisão é de 100%.
O recuo do estoque de financiamentos e o peso da deterioração econômica, em especial nas pequenas e médias empresas, puxaram o crescimento dos índices de inadimplência do banco. O percentual de operações com atraso superior a 90 dias subiu para 4,22% em março, ante 3,6% no mesmo período de 2015 e 4,06% em dezembro.
A maior deterioração se deu no segmento de micro, pequenas e médias empresas, cuja inadimplência atingiu 6,66% no fim de março. O índice era de 4,7% um ano antes e estava em 5,98% em dezembro. Nas grandes empresas, em contrapartida, a inadimplência recuou para 0,43% em março, ante 0,54% em dezembro. A queda é maior na comparação com o índice de 0,8% registrado em março do ano passado.
Na análise do Goldman Sachs, foi o forte volume de baixas para prejuízo que segurou um avanço maior na inadimplência ante dezembro. O Bradesco tirou do balanço R$ 5 bilhões em créditos nos três primeiros meses do ano, 30,5% a mais que em dezembro. Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do banco, afirmou que grande parte dessas baixas foi na carteira de grandes empresas, o que explica o recuo da inadimplência no segmento.
Outro sinal ruim para a qualidade de ativos do Bradesco foram as operações com atraso de 15 a 90 dias, que tiveram piora em todos os segmentos. No total, a inadimplência antecedente subiu para 4,77% em março. Houve um aumento de 0,7 ponto porcentual em relação a dezembro e de 0,67 ponto na comparação anual.
Segundo Angelotti, a taxa de inadimplência do banco deve crescer entre 0,1 e 0,2 ponto percentual por trimestre. A expectativa do executivo é que os índices de atraso no pagamento continuem a subir até o fim deste ano. “Em 2017, o índice deve ficar razoavelmente estável, com possibilidade de voltar a cair em 2018″.
Entre os destaques positivos, a equipe do UBS chama a atenção para o aumento dos spreads, o sólido resultado de seguros e a melhora dos índices de capitalização do banco. A Bradesco Seguros respondeu por 34% do lucro da instituição no primeiro trimestre, acima dos 30% no mesmo período de 2015. (Colaborou Fernando Torres)
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