Por: Felipe Marques e Vinícius Pinheiro
O Itaú Unibanco preparou o mercado ontem para mais um ano de piora na qualidade de crédito do banco pela frente. Eduardo Vassimon, vice-presidente executivo e diretor financeiro da instituição, disse, em teleconferência, que o pico da inadimplência nas carteiras de pessoas físicas do banco deve ocorrer apenas perto do fim de 2016 e o início de 2017.
A qualidade das operações de crédito do Itaú foi mais uma vez o grande tema da apresentação dos resultados trimestrais a analistas ontem, depois de o Itaú ter feito um reforço bilionário em suas reservas para absorver perdas com maus pagadores. Para o ano que vem, Vassimon disse esperar um ambiente de crédito “bastante difícil”, em que o banco deve seguir apresentando despesas “relevantes” com a constituição de provisões para devedores duvidosos.
A projeção mostra o Itaú um tanto mais pessimista que seu principal rival, o Bradesco. Na semana passada, o banco disse em apresentação a investidores esperar o pico de inadimplência na segunda metade do ano que vem, mas ainda abaixo das máximas atingidas em 2009. A partir daí, o calote ficaria estável.
O ponto central das questões dos analistas ao Itaú foi a piora de 0,5 ponto percentual na inadimplência pessoa física do banco, atingindo 5,1%. “A última vez que a inadimplência pessoa física subiu 0,5 ponto de uma vez foi no segundo trimestre de 2012, em plena crise do financiamento de veículos”, apontou o analista Felipe Salomão, do Morgan Stanley, ao questionar o banco sobre a deterioração do índice.
Na resposta, Vassimon deixou claro que a velocidade surpreendeu o próprio Itaú, mas que a piora daqui em diante não deve ser tão intensa. “A elevação da inadimplência pessoa física foi pior do que o que estávamos esperando, até porque o cenário econômico foi pior que a expectativa”, disse. Segundo ele, deve haver uma deterioração “gradual” do indicador nos próximos meses, mas em uma “magnitude menor do que a vista no terceiro trimestre na pessoa física”.
O executivo chamou a atenção para a leve melhora dos índices antecedentes de inadimplência (atrasos entre 15 e 90 dias) entre os clientes pessoa física do banco, que saiu de 4,2% no segundo trimestre para 4,1% no terceiro. Isso sustentaria a tese de um crescimento mais moderado dos atrasos acima de 90 dias daqui em diante.
Na pessoa jurídica, a expectativa do banco também é de maior inadimplência, mas em créditos já provisionados, que devem entrar em inadimplência efetiva apenas ao longo dos próximos meses.
Outro tema importante nas discussões com analistas, o desempenho da mesa de tesouraria – que levou o lucro do trimestre a superar expectativas – também não deve se repetir. O banco espera um resultado das operações de tesouraria da ordem de R$ 1,2 bilhão no quarto trimestre, alinhado à média histórica, afirmou Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco. No terceiro trimestre, essa linha trouxe para a instituição um ganho de R$ 2,38 bilhões.
Segundo Vassimon, o resultado não recorrente do terceiro trimestre foi “fruto da maior volatilidade do mercado e de algumas posições direcionais que fizemos em câmbio e juros e, felizmente, acertamos”.
Não foi só na tesouraria que a desvalorização do real se fez sentir no banco. O efeito do câmbio fará com que a carteira de crédito do Itaú Unibanco feche 2015 “acima do ponto mais alto” do intervalo previsto, afirmou Vassimon. A meta do Itaú é de crescimento da carteira total entre 3% e 7% neste ano. No acumulado de 12 meses até setembro, o estoque subiu 10,1%, somando R$ 590,7 bilhões.
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