Por: Felipe Marques e Fabiana Lopes

O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, tentou ontem atenuar a preocupação de investidores com a qualidade dos ativos do banco – um dos fatores que têm pesado sobre as ações da instituição nas últimas semanas.

Mesmo admitindo que o índice de inadimplência dos clientes deve piorar até o fim do ano, Setubal ressaltou que o percentual de empréstimos em atraso não vai chegar ao pico visto em 2009 e 2012. “Esperamos que a inadimplência suba em relação a dezembro, mas será uma subida controlada”, disse, em evento em São Paulo.

O controlador do maior banco privado brasileiro, porém, deixou claro que alguns fatores que influenciam a capacidade de pagamento das empresas estão fora do alcance da instituição, como os desdobramentos da Operação Lava-Jato e questões na cadeia de óleo e gás. Indagado sobre a Sete Brasil, criada para construir sondas que para a Petrobras, Setubal não quis comentar o tema.

A uma plateia de investidores e analistas, o executivo frisou a capacidade do banco de atravessar um cenário de inadimplência mais difícil e aproveitou para se queixar do preço da ação do Itaú.

“A ação hoje reflete uma preocupação muito grande com inadimplência”, disse, ponderando que a “ampla desconfiança” de investidores com o Brasil também pesa sobre a cotação. “O preço não reflete, de fato, a expectativa de resultados do banco.” Ontem, Itaú PN subiu 0,22%, cotado a R$ 26,34.

“Estamos confiantes de que vamos passar por esse ciclo mantendo um padrão elevado de rentabilidade”, afirmou, acrescentando que o Itaú tem hoje uma capacidade maior de monitorar atrasos. “O momento da economia é muito pior que em 2012, mas o nível de controle de atrasos está melhor.”

Setubal explicou que, a despeito do avanço dos calotes, o crédito tem hoje menor peso no resultado geral do Itaú. Segundo ele, o retorno sobre o capital das operações de crédito no primeiro semestre foi de 16%, enquanto em seguros e serviços, por exemplo, foi de 44,5%. “Isso torna o banco resiliente. Grande parte do resultado vem de área pouco afetada pela crise.”

Outro fator que pressionou a ação recentemente – como a proposta de alta da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos – também foi abordado pelo executivo. “Vai ter de haver certa reprecificação de nossos produtos para absorver esse aumento de custo vindo do aumento do imposto”, afirmou.

Setubal disse que a economia brasileira está colhendo as dificuldades do ajuste fiscal, mas os benefícios ainda não se materializaram. “Estamos sentindo as dores do ajuste, mas os benefícios ainda não. Teremos benefícios nas contas externas olhando para a frente”, afirmou.

Setubal e os principais executivos do banco reforçaram a mensagem de que o Itaú será cada vez mais digital. “Acreditamos mais na agência digital que na de tijolo. Por isso é que fomos menos agressivos na oferta pelo HSBC “, disse o presidente da instituição.

Se o interesse pelo HSBC foi pequeno, o Itaú tem apetite para aumentar sua participação no chileno CorpBanca, com quem fechou um acordo de fusão em 2014. “Não há nada no momento. É uma possibilidade se e quando o preço estiver atrativo. Mas não temos previsão de que isso aconteça pelo menos pelos próximos dois anos”, disse Setubal.

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