Para o SPC Brasil, o resultado comprova que há espaço para que os consumidores recebam algum tipo de educação financeira
Do total de pessoas que está com “nome sujo” pelo atraso no pagamento de contas, parcela de 46% admite que a dívida poderia ter sido evitada. Dentro desse grupo, a maioria (66%) afirmou que “deveria ter controlado os impulsos e ter resistido mais”. Outros 32% admitiram que não estariam inadimplentes caso “tivessem feito um planejamento financeiro, controlando o orçamento sem gastar mais do que recebem”. O resultado está presente em pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). São considerados inadimplentes consumidores que estão com alguma conta em atraso há mais de 90 dias.
O estudo delineou o perfil e os hábitos de consumidores adimplentes e inadimplentes. Foram ouvidas 1.238 pessoas nas 27 capitais brasileiras. Para o SPC Brasil, o resultado comprova que há espaço para que os consumidores recebam algum tipo de educação financeira. “Não seria apenas necessária, mas, principalmente bem-vinda, a partir do momento em que o inadimplente reconhece que o atraso poderia ter sido evitado”, avalia o gerente financeiro do SPC Brasil, Flávio Borges.
De acordo com Borges, o uso consciente do crédito é especialmente importante para famílias de menor poder aquisitivo, pelo fato de agora poderem ter acesso a bens e serviços que não teriam, caso tivessem de fazer pagamentos à vista. Mas ele adverte que é importante que o desejo de consumir não atropele o planejamento financeiro. “A simples prática de anotar gastos e despesas, fazer três orçamentos, acompanhar extratos bancários e não comprometer mais do que 30% do orçamento com compras parceladas já são eficientes e podem dar ao consumidor uma vida financeiramente saudável”, diz.
Quatro em cada dez consumidores inadimplentes tiveram os nomes incluídos em serviços de proteção ao crédito por atrasos referentes a cartões de crédito (46%) ou financiamentos bancários (40%). Além disso, parcela de quase a metade dos débitos (45%) está concentrada em valores entre R$ 1 mil e R$ 5 mil.
Perfil
O levantamento revela que parcela de 47% dos devedores está concentrada entre os consumidores da classe C. “É natural que a inadimplência esteja focada nos extratos médios da sociedade, se considerarmos que esses brasileiros passaram a ter acesso a crédito barato e desburocratizado em um passado muito recente, sem saber como utilizá-lo de maneira planejada”, avalia Borges. De acordo com a pesquisa, pertencer à classe C, ser autônomo, ter gasto fixo com aluguel e possuir baixa escolaridade são algumas das características dos consumidores inadimplentes.
Entre aqueles que estão com as contas em atraso, 33% moram em casas alugadas. Na avaliação do SPC Brasil, esse tipo de despesa alta consome um porcentual considerável do orçamento familiar e colabora para que haja menos dinheiro disponível para o pagamento das outras contas. Entre os que estão com as contas em dia, fatia de 22% paga aluguel.
Renegociação
De acordo com o SPC Brasil, 84% dos consumidores inadimplentes conseguem quitar as dívidas renegociando o valor diretamente com os bancos. Para a entidade, há uma mudança clara de comportamento na maneira como as instituições financeiras passaram a se relacionar com os clientes, sobretudo os de menor poder aquisitivo. O estudo mostra que o porcentual de consumidores das classes C, D e E que conseguiu chegar a um acordo com o banco é 6% maior do que consumidores das classes A e B.
“A portabilidade das dívidas, implementada no Brasil em abril do ano passado, incentivou o consumidor a transferir os débitos de um banco para o outro em busca de juros menores. Para contornar a concorrência, os bancos estreitaram a relação com os clientes e desburocratizaram a negociação”, avalia o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.
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