Por Alberto Komatsu

O endividamento da nova classe média está levando a venda de pacotes turísticos a níveis históricos de inadimplência. Na operadora Visual Turismo, o presidente Afonso Louro conta que, de janeiro a maio, em relação a igual período de 2011, o volume de cheques pré-datados devolvidos aumentou de 0,69% para 1,04%, o maior índice da história da empresa, fundada em 1986.

Na rede ITM, composta por 17 agências de turismo com projeção de faturamento combinado de R$ 1 bilhão em 2012, o patamar de devolução de cheques passou do nível médio de 1,5% para 2,5% na comparação anual de primeiros trimestres. De acordo com o presidente da empresa, Carlos Prado, é o maior nível de inadimplência em cinco anos.

“Foi o endividamento das pessoas, após aquela euforia que se viu em 2011″, afirma Louro, da Visual. Segundo ele, o maior volume de cheques devolvidos foram de valores inferiores a R$ 500. Após um processo de cobrança, o aumento de cheques devolvidos recuou de 50% para 33%. Mesmo assim, o executivo acrescenta que essa taxa permaneceu sendo recorde.

Prado, da ITM, tem avaliação parecida sobre o aumento da inadimplência na venda de pacotes turísticos. “Foi o não planejamento diante do maior acesso ao crédito. Me preocupa o governo estimular o crédito, porque muitos brasileiros não têm disciplina financeira”, afirma o executivo.

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de São Paulo (Abav/SP), William Périco, disse que entre as associadas da entidade foi verificada uma redução da aprovação de crédito para financiamentos superiores a 10 ou 12 parcelas, com cobrança de juros. “A concessão de crédito está mais difícil do que foi no passado. Hoje a análise de risco está mais apurada”, afirma.

Entre as maiores vendedoras de pacotes turísticos, como do porte da CVC, fontes do setor relatam que houve uma redução média de 20% na aprovação de parcelamentos superiores a 12 vezes com juros. Esse recuo foi verificado na comparação de maio com abril. Nesses casos, o risco é da instituição financeira parceira da operadora.

O aumento da inadimplência, combinada com o clima de incerteza na economia mundial, fez a ITM rever para baixo suas projeções de crescimento para 2012. Inicialmente, Prado disse que a meta era de expansão de 30% no número de agências filiadas e de faturamento. Essa taxa foi revista para 20%.

A ITM, que desde o início deste mês passou a se chamar ITM Shared Services, quer encerrar 2011 com 30 agências. A rede reestruturou sua atuação, que passa a funcionar como uma central de negócios entre as suas associadas, empresas de pequeno e médio porte.

A ITM tem 75% de seu faturamento com o mercado corporativo. Foi nos 25% restantes, voltados para pacote de lazer, que a empresa verificou o aumento da inadimplência. A empresa vai investir, neste ano, R$ 1,2 milhão em marketing e treinamento.

A proporção de vendas de pacotes turísticos da Visual Turismo é exatamente inversa à da ITM. Na Visual, 75% das vendas são para o consumidor final, de viagens de lazer. Os 25% restantes são para contas corporativas.

De acordo com o presidente da empresa, o aumento do volume de cheques devolvidos não deverá comprometer as projeções de crescimento da empresa, que não divulga faturamento. Louro conta que as vendas da Visual deverão ter expansão de até 35%, neste ano, em comparação com o ano passado.

Entre 2011 e 2010, a Visual teve crescimento de 40%. “Existe uma preocupação natural com essa situação econômica mundial, mas até agora as coisas foram muito bem”, diz Louro. Segundo ele, a Visual abriu três filiais neste ano, totalizando 11 escritórios no país. O executivo diz que o que está motivando o crescimento são promoções de preço nos pacotes, com descontos de até 6% em relação ao ano passado.

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