O cartão de crédito tem sido cada vez mais usado pelos idosos e a inadimplência tem aumentado nesta faixa etária. Especialistas orientam quanto aos riscos da má utilização do cartão e de como evitar o endividamento
Por: Juliana Montanha e Mariana Sale
O número de idosos que estão recorrendo ao cartão de crédito é cada vez maior no país. Segundo dados da companhia financeira Sorocred, entre as mulheres acima de 60 anos, a utilização deste meio de pagamento saltou de 8,5% para 11,6%, enquanto no sexo masculino, o número cresceu de 6,2% para 8,3%.
Com o aumento do uso, cresceu também a inadimplência entre essa faixa etária. Os números do SPC Brasil apontam que, no ano passado, a quantidade de consumidores entre 65 e 94 anos com dívidas atrasadas cresceu 8,56% em relação ao período anterior, superando a média nacional que fico em 4,86%.
Por conta do aumento da inadimplência entre os brasileiros e da taxa básica (Selic), os juros dos cartões de crédito estão cada vez maiores. No mês de abril, a média subiu para 435,6% e se manteve no maior patamar desde outubro de 1995, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Negociação
O desemprego foi a causa do atraso da fatura do pedreiro João Domingos dos Santos, de 63 anos. “Perdi meu emprego há oito meses e, por conta da idade, ainda não consegui me aposentar. Tinha um dinheiro guardado e faço bicos, mas está bem difícil pagar as contas”, conta. Um problema de visão complicou ainda mais o orçamento do pedreiro, que teve que gastar quase R$ 300 por mês com remédios. “Eu sempre pagava o valor total da fatura, mas com o aumento da despesa a conta ficou em R$ 1.200 e parcelei em cinco vezes para ver se consigo resolver”, diz Santos.
O acordo com a empresa do cartão de crédito também foi a saída encontrada pelo aposentado Edval do Espirito Santo, de 79 anos, para resolver a sua dívida. “O cartão era usado pela minha companheira e como não acompanhava as despesas, não tinha nem ideia de quanto devia”, conta. Segundo o aposentado, sem pagar o valor total da conta e fazendo novas despesas, a fatura do cartão alcançou um valor que ele não conseguia dar conta e o melhor caminho para se resolver a dívida foi o acordo. “Com a renegociação, o cartão foi bloqueado, evitando que novas despesas sejam feitas. Estou pagando o débito parcelado. Se não fosse assim, não conseguiria acabar com a dívida”, revela.
A professora aposentada Edsa Arantes, de 70 anos, costuma usar o cartão para comprar remédios e fazer supermercado. Como a fatura é debitada automaticamente da conta corrente, a aposentada não atrasa, mas admite que sobra pouco para passar o resto do mês. “O dinheiro fica curto depois de pagar o cartão, mas estou fazendo de tudo para reduzir ao máximo as despesas. Teve mês que já cheguei a ficar quase sem saldo após o pagamento”, confessa.
Cartão amigo
Por motivos de segurança e pela facilidade em parcelar as compras, a aposentada Joselita Leite costuma pagar a maioria das suas compras com o cartão de crédito. “Tenho dois cartões de crédito e uso eles frequentemente. Nunca gostei de carregar dinheiro vivo e vejo o parcelamento como um ponto positivo”, conta.
Comprando com planejamento, a aposentada afirma que nunca se endividou com o cartão, porque anota em um caderno todos as aquisições e suas respectivas parcelas. “Faço planejamento para não acumular muitos parcelamentos de uma vez só. Sempre vejo qual é a folga que eu tenho para entrar com novas parcelas”, afirma Joselita, que só começa a pagar uma coisa nova quando a compra anterior foi quitada. “Nunca tive problemas porque realmente eu tenho controle das despesas e que isso é essencial”, afirma.
Aliado ou inimigo?
O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e educador financeiro Reinaldo Domingos explica que o cartão de crédito é um importante meio de pagamento, mas é preciso que as pessoas saibam utilizá-lo para que ele seja um aliado. “Caso o usuário não consiga pagar a fatura, é preciso buscar uma restruturação financeira”. No caso dos idosos, o endividamento no cartão é um problema ainda maior, uma vez que eles não costumam ter nenhuma renda extra além da aposentadoria. “A taxa de juros do cartão passa de 400% ao ano. Quanto maior a inadimplência, maior serão os juros cobrados”, alerta Domingos.
Uma simulação feita pelo consultor financeiro e colunista do CORREIO Edisio Freire aponta os riscos de quem usa o cartão de credito, mas limita-se a pagar o valor mínimo da fatura, que representa 15% da dívida. No caso de uma compra de R$ 1 mil, se o consumidor efetuar apenas o pagamento mínimo e não realizar nenhum outro gasto além do inicial, ao fim de um ano, o cliente terá pago R$ 1.593,14 e ainda estará devendo R$ 761,03. Nessas condições, a dívida custará R$ 1.354,17 a mais do que o valor utilizado inicialmente.
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