Por: Léa De Luca
O cenário, que já era desfavorável, pela inflação em alta e crescimento econômico em baixa, dá sinais de piora.
A trajetória persistente do nível de endividamento das famílias, aliada agora ao movimento de retomada da alta dos juros dos empréstimos, acenderam a luz amarela nos bancos. Ontem, dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostraram nível de endividamento de 65% ante 55% em mesmo período do ano passado. O cenário, que já era desfavorável, pela inflação em alta e crescimento econômico em baixa, dá sinais de piora e ameaça o recrudescimento dos calotes, que vinham registrando queda. Como resultado, a demanda e a oferta de empréstimos tendem a desacelerar mais do que o previsto no começo do ano.
“Estamos preocupados com a qualidade das carteiras de crédito dos bancos. Mais importante do que a velocidade de expansão é o percentual de inadimplência”, diz Maria Rita Gonçalves, diretora sênior da Fitch Ratings, especializada no setor financeiro. Quanto mais calotes, menores margens e rentabilidade.
Segundo Maria Rita, a queda da inadimplência verificada até agora – 0,7 ponto percentual em doze meses até maio, segundo dados mais recentes divulgados pelo Banco Central – é pequena, principalmente considerando que no Brasil os prazos dos empréstimos são curtos, ou seja, a tendência pode ser rapidamente revertida. Apesar da queda em 12 meses, de fevereiro a maio a inadimplência média (para empresas e pessoas físicas) estabilizou-se em 3,6%.
Flavio Serrano, economista sênior do Banco Espírito Santo de Investimentos (BESI), também vê uma perspectiva pior para o crédito no segundo semestre. “Com a inflação persistentemente alta, o mercado de trabalho já começa a dar sinais de piora, o que dificulta a recomposição real dos salários e o pagamento das dívidas”, diz.
O percentual de famílias brasileiras com dívidas subiu para 65,2% em julho, ante 63% em junho, segundo divulgou ontem a CNC em sua Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Foi o segundo maior resultado da série iniciada em 2010. “Parece também que a economia desacelerou mais bruscamente, na margem, recentemente”, diz Serrano. “Tudo isso exerce pressão sobre a capacidade de pagamento”. Como consequência, os bancos já começaram a aumentar provisões contra calotes. O aumento poderá ser comprovado nos balanços do segundo trimestre, que começam a ser divulgados na semana que vem.
Segundo o executivo responsável pela área de crédito de um grande banco privado brasileiro, que prefere não se identificar, as instituições estão realmente atentas à piora de cenário. “Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça”, brinca. Segundo ele, as concessões estão mais criteriosas, pelo menos nos bancos privados: “Ninguém mais está em busca de fazer ativos a qualquer preço. Agora, o momento é de reflexão”.
O executivo avisa que o repasse da alta dos juros básicos para a taxa final cobrada dos tomadores de crédito já começou: “A alta da Selic afeta margens e spreads como nenhum outro custo, pois é a parte mais sensível na estrutura de preços do crédito”, lembra. Em maio, a tendência ainda não havia sido verificada: a taxa média de juros caiu 0,4 p.p. no mês, fechando a 18,1%; e o spread caiu 0,4 p.p.
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