Por: Frank Migiyama
De quatro anos para cá, quem buscava a reestruturação da empresa conseguia tomar fôlego, uma vez que o mercado na época ajudava. Atualmente, o cenário não é mais o mesmo. Não depositamos mais tanta expectativa na retomada do mercado na economia, além disso, vivemos um aceleramento do estresse financeiro e, consequentemente, de pedidos de recuperação judicial. De fato, o alto endividamento, quer seja ele tributário, trabalhista ou oriundo de financiamentos e a ineficiência operacional são as maiores causas da deterioração das companhias, consequentemente dos empregos.
Porém, grande parte das empresas que estão em clima de recuperação judicial, ou se encaminhando para isso, trazem um histórico de estresse financeiro desde a crise de 2008. São companhias que investiram em pessoas, equipamentos, em infraestrutura aumentando o parque fabril, e que na saída desta crise não obtiveram o devido retorno dos investimentos e consequentemente as contas começaram a chegar. Mesmo com redução de custos e do quadro colaborativo de dois anos para cá e melhorias de processo, muitas delas não conseguiram faturar o suficiente para cobrir também o serviço de dívida acumulada nos últimos anos. A economia, por sua vez, deu sinais de melhora até 2013, mas não melhorou tanto quanto era esperado e começou a complicar para quem não se preparou para uma gestão de crise.
No entanto, quem antecipou os planos de reestruturação, nos últimos anos visando a renegociação das dívidas com credores, vive ainda uma dificuldade financeira com menor impacto e com muita dificuldade tem trabalhado para contornar a situação. Observamos uma demanda crescente de clientes buscando uma reestruturação de modo geral, com foco em renegociação de dívidas, em redução de custos, em melhorias operacionais e principalmente um assessoramento empresarial e estratégico. A maioria das dúvidas dos empresários é em relação ao momento da empresa (o que priorizar?) versus o profundo endividamento e o cenário que aponta para uma possível paralização de sua operação e aprofundamento da espiral negativa de seus resultados. Gostaria de relembrar que em 2008, 312 empresas entraram com pedido de recuperação judicial, segundo dados do Serasa Experian. No ano passado, foram 1287 pedidos requeridos e para esse ano estimamos um recorde tanto de RJ quanto de falências decretadas.
Levanto esses questionamentos para demonstrar que ao solicitar um assessoramento empresarial executivo, ou seja, uma assessoria para reestruturar a empresa, o que deve ser feito de imediato é identificar as prioridades, como equilibrar o caixa sem parar o negócio. Hoje, não basta mais cortar gastos, reduzir quadro, diminuir a produção e se desmobilizar, por exemplo. A situação da grande maioria das empresas que já passava por dificuldades há 4 anos atrás, e não se reestruturou até então, é um caso de um tratamento intensivo com renegociação profunda de dívidas e tomadas de decisões rápidas e precisas que são em sua maioria desconfortantes.
E é neste momento em que a Recuperação Judicial (RJ) pode ser uma alternativa para ganhar fôlego operacional quando a situação em que a empresa se encontra é a incapacidade do pagamento dos débitos. Ninguém gosta de entrar em RJ, obviamente, e é um instrumento judicial que viabiliza carência de pagamento das dívidas e outras condições que dão um maior tempo para arrumar a casa e gerir de modo estruturado o serviço de dívida, por exemplo, com prazo de recebimento dos débitos mais alongado, o que pode varia em sua maioria entre 2 e 10 anos.
Todavia, há casos em que reestruturamos a companhia conseguindo por exemplo, negociar com os credores extra judicialmente e gerí-la operacionalmente mesmo com toda a dificuldade do dia a dia. Ou seja, não foi preciso lançar mão desse instrumento.. Esse é um ponto interessante e extremamente gratificante também, quando podemos auxiliar as empresas que estejam passando por situação financeira degradante ainda vislumbrando saídas.
Num processo de reestruturação, competências extremamente importantes como liderança, habilidade de gerir pessoas em situações de estresse e comunicação são chaves para o sucesso, além do senso de urgência. Nesse momento de crise, às vezes nos deparamos com a síndrome do avestruz (onde não tomamos decisões e esperamos que os problemas sumam) e com a síndrome do estudante (onde deixamos para última hora).
O senso de urgência é agora, o momento do Brasil reorganizar e se reinventar é esse. Como diz uma letra de uma música (..o tempo não para..), não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje. Gestão de crise com reestruturação com ou sem RJ é assim: tudo é para ontem.
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