Por: Julio Wiziack
Com uma dívida de quase R$ 55 bilhões, a Oi tenta mais uma cartada para evitar a recuperação judicial.
O plano inicial é ficar sem pagar por alguns anos aos credores locais e trocar a dívida com os estrangeiros por participação na empresa.
A Folha apurou que, nas últimas semanas, representantes da operadora procuraram os principais credores acompanhados pela PJT Partner, consultoria norte-americana que assessora a empresa na reestruturação.
Na conversa, segundo os credores, a empresa disse que pretende trocar a dívida com os estrangeiros por ações da Oi. Se isso acontecer, a tele pediria aos credores no Brasil pelo menos três anos para voltar a pagar o principal e os juros de sua dívida.
Procurada, a operadora não quis comentar.
Hoje, a Oi deve R$ 35 bilhões para investidores que compraram seus papéis (“bonds”) no exterior. É a parte mais pesada da dívida, cerca de 65% do total. Somente neste ano, esses credores têm cerca de R$ 11 bilhões (sem incluir juros) para receber.
Recentemente, esses credores estrangeiros procuraram o banco americano Moelis para fazer a intermediação com a operadora.
O trabalho começa nesta semana e dele dependerá a proposta final da reestruturação. Caso a negociação seja muito dura e a Oi tenha de trocar parte menor da dívida por ações, os credores locais terão de esperar mais.
Recuperação
Credores ouvidos pela Folha chamam a iniciativa da Oi de “recuperação branca” –segundo eles, a tele disse que seguirá rumo à recuperação judicial, caso o plano final de reestruturação da dívida não seja aceito por mais de 95% dos credores.
Para um credor, a negociação privada é melhor que a recuperação judicial –que normalmente oferece descontos elevados (acima de 80%) e prazos superiores a 15 anos.
A dívida da Oi se tornou um problema desde que a tele comprou a Brasil Telecom (BrT), em 2009. Boa parte dos recursos da companhia foi gasta na troca de papéis para a fusão e, no meio do processo, surgiu ainda uma dívida inesperada de mais de R$ 1 bilhão na BrT.
Em 2010, começaram as negociações para a entrada da Portugal Telecom (PT) no bloco de controle da Oi, o que ocorreu em 2011 e deveria dar fôlego à tele. Dois anos mais tarde, as duas empresas se fundiram, trazendo para o balanço da Oi a dívida da PT.
No meio do processo, surgiu outra dívida escondida, na PT, de € 897 milhões. A fusão quase deu errado, mas os sócios contornaram a crise, captando cerca de R$ 8 bilhões no mercado.
O endividamento continuou crescendo, e a Oi vendeu a Portugal Telecom e colocou sua participação na África à venda. Mas isso também não foi suficiente.
Com uma proposta do fundo russo LetterOne, ela tentou se fundir à TIM –os russos investiriam até US$ 4 bilhões na tele pós-fusão.
As negociações fracassaram e, agora, a Oi renegocia diretamente com credores.
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