Por: Adriana Mattos

Grandes grupos varejistas começam a relatar, em seus relatórios de resultados, o aumento na inadimplência do consumidor nas lojas. Os shopping centers também identificaram neste ano um crescimento acima do esperado no atraso do pagamento de aluguel dos lojistas, afetados pelo ambiente de desaceleração econômica. Funciona como espécie de efeito dominó: se o cliente deixa de arcar com suas dívidas, o capital de giro encolhe e a loja passa a ter dificuldades de quitar suas obrigações.

Maior companhia de varejo de bens duráveis, a Via Varejo, formada da união de Casas Bahia e Ponto Frio, verificou “aumento marginal da inadimplência”, e tomou medidas para evitar a piora desse quadro. “É sensato imaginar que, pelo contexto econômico, essa tendência deva piorar nos próximos meses. Lançamos ações para conter este aumento e também para a recuperação de atrasos [de pagamento]” disse ontem para analistas, em teleconferência, Emmanuel Lemaitre, diretor financeiro.

Dados publicados ontem mostram leve aumento de 4% na provisão para crédito de liquidação duvidosa do grupo, para R$ 210 milhões em março, soma que ainda não reflete, porém, o impacto do aumento de atrasos neste ano.

Investimentos em tecnologia da informação e em consultoria foram feitos neste ano – a Via Varejo acabou com a área de call center própria e contratou a Atento – e uma diretoria de serviços financeiros foi criada para coordenar ações, como recuperação de perdas com atrasos e ampliação de controles na concessão de crédito.

Na quarta-feira, a Riachuelo informou que, em março, 6,9% da carteira equivalia a dívidas com atraso de 15 a 180 dias (era 6,6% há um ano) e trabalha com a expectativa de que essa taxa atinja 7,5% ao fim de setembro, disse Tulio Queiroz, diretor financeiro. “Existe um aumento natural da empresa e dos cartões e empréstimos pessoais, que cresceram dentro da rede, mas existem também perdas reais”.

“Calculamos que no cartão Riachuelo essa taxa [percentual da carteira com atraso de até 180 dias] passe de 5,9% em março para 7 a 7,5% em setembro”, acrescentou. Na Riachuelo, parte das perdas já foi alocada na linha de provisão, que cresceu 105% no primeiro trimestre, para R$ 77,2 milhões.

Indicadores de associações já apontavam para desequilíbrio nas contas de empresas e consumidores neste ano, mas companhias de capital aberto não haviam reportado problemas com inadimplência nos últimos tempos.

Nos últimos dias, shoppings começaram a alertar para o cenário de atrasos em aluguéis de lojistas, algo que, até então, não estava no centro das discussões do setor. “Houve um crescimento [nos atrasos] neste trimestre e, pelo visto, na empresa e no mercado também. Isso subiu de forma geral. É normal que esse patamar cresça no primeiro trimestre, mas neste ano realmente está acima”, disse ontem, para analistas, Carlos Alberto Correa, diretor financeiro da Sonae Sierra Brasil.

O total de pagamentos em atraso na Sonae Sierra, superior a 25 dias, atingiu 4,1% em março – há um ano era de 3,3%. “É algo que ainda não é computado como perda porque normalmente se renegocia [com lojistas], mas é um sinal de alerta porque é a primeira vez que sobe neste nível”, disse Correa.

A Aliansce informou ontem uma taxa de inadimplência líquida de 5,3% de janeiro a março, versus 4,1% um ano antes. Na BR Malls, o índice passou de 2,5% para 4,4% no mesmo período, e a empresa não afasta hipótese de que essa elevação reflita piora no cenário econômico. “Passamos por um período de migração dos sistemas de faturamento e cobrança e houve atraso nos envios de boletos. Mas pode ter ocorrido também efeito de deterioração no ambiente econômico. Vamos ter confirmação ou não disso nos próximos trimestres”, disse Carlos Medeiros, presidente da BR Malls, a analistas.

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