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Bradesco lucra R$ 17 bilhões, mas calotes sobem acima do esperado

por: Afonso Bazolli
em: Cobrança
fonte: Valor Econômico
31 de janeiro de 2016 - 14:08

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Por: Felipe Marques e Vinícius Pinheiro

Após um aumento acima do esperado da inadimplência no fim de 2015, puxado pelas pequenas e médias empresas, o Bradesco passou a ter uma projeção mais pessimista para o comportamento da inadimplência em 2016. Agora, o banco espera que o índice se estabilize apenas no início de 2017, não mais na metade deste ano, como havia sinalizado em outubro.

Apesar do impacto negativo da alta nos créditos em atraso sobre o resultado, o Bradesco registrou lucro líquido contábil de R$ 17,190 bilhões no ano passado, um aumento de 13,9% em relação a 2014. O banco cravou o sétimo trimestre consecutivo com retorno sobre o patrimônio acima de 20% e encerrou 2015 com rentabilidade de 20,5%. No quarto trimestre, o lucro do banco avançou 9% em relação ao mesmo período de 2014, para R$ 4,353 bilhões.

Diante das projeções para a economia, que deve registrar nova retração neste ano, o Bradesco cortou a expectativa para o crescimento da carteira de crédito, que deve registrar expansão de 1% a 5%. No ano passado, o banco teve um incremento de 4,2% nos empréstimos, o que representa uma retração se descontada a inflação.

“Foi um período atípico, que nos impôs um estilo de administração focado na prudência”, afirmou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em teleconferência com a imprensa para comentar o balanço. “A ambição do banco é preservar a consistência da carteira de crédito”, disse. Ao mesmo tempo, Trabuco disse que o cenário exigiu uma “dosagem extra” de agressividade em buscar eficiência em custos e inovação. O banco registrou um aumento de 7,7% nas despesas no ano passado, abaixo da inflação do período.

O aumento dos calotes foi apontado por analistas como o principal ponto negativo nas demonstrações do Bradesco. “A inadimplência está subindo, mas o índice de cobertura e as reservas para inadimplência seguem elevados, provendo uma razoável proteção de resultados”, escreveu, em relatório, o analista Philip Finch, do UBS.

O índice que considera os atrasos superiores a 90 dias subiu para 4,06%, ante 3,81% no fim do terceiro trimestre e 3,5% no quarto trimestre de 2014. Só nas pequenas e médias empresas, o índice subiu 0,72 ponto percentual, para 5,98% entre setembro e dezembro.

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“Para este ano, a expectativa é de retração econômica, o que leva a uma expectativa de aumento da inadimplência no ano todo”, disse Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do banco. Ele ponderou que o banco não espera que a velocidade com que a inadimplência piorou no fim de 2015 se repita. “A aceleração que tivemos não deve acontecer nos mesmos termos nos próximos trimestres”, disse, apontando para a estabilidade do índice de empréstimos com atraso entre 15 a 90 dias como um fator positivo.

Para demonstrar que mantém as perdas potenciais com a inadimplência sob controle, o Bradesco decidiu divulgar sua projeção para as provisões contra calotes. O banco espera gastar entre R$ 16,5 bilhões a R$ 18,5 bilhões com essas reservas neste ano – o que representaria um crescimento de até 21,9% ante os R$ 15,17 bilhões que o banco gastou em 2015. Na comparação com 2014, a despesa de provisão no ano passado foi 19,89% maior.

A estimativa para as provisões feita pelo Bradesco facilita a comparação com os demais bancos sobre o comportamento da inadimplência, segundo Angelotti. Para ele, a análise do índice de atrasos não é o melhor parâmetro de comparação se um banco eventualmente vende carteiras de crédito, o que afeta o indicador. A divulgação da estimativa também deve contribuir para alinhar as expectativas dos analistas em relação ao balanço do banco. “É mais objetivo para o mercado entender o efeito do que vai ser a inadimplência dentro das nossas expectativas”, afirmou.

O banco conseguiu afastar pelo menos um fator de preocupação dos analistas após os resultados do último trimestre do ano: os níveis de capitalização. Entre setembro e dezembro, o Bradesco conseguiu elevar seu índice da Basileia (que mede sua capacidade de conceder crédito) em 2,3 pontos percentuais, para 16,8%.

O banco tomou uma série de medidas internas que explicam a melhora do índice: emitiu R$ 5,8 bilhões em letras financeiras subordinadas, incorporou parte dos lucros que teve no ano ao patrimônio, melhorou processos internos e ainda teve uma ajuda do Banco Central, que diminuiu a exigência de capital de algumas operações.

O índice deve crescer ainda mais quando o banco finalizar um aumento de capital de R$ 3 bilhões proposto no ano passado. Esse aumento de capital deve adicionar mais 0,5 ponto percentual ao capital de melhor qualidade do banco (nível 1), estima o Credit Suisse. Por outro lado, a aquisição do HSBC Brasil, quando aprovada, deve reduzir esse indicador em 1,9 ponto, segundo o Bradesco. O negócio segue à espera da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Questionado, o presidente do Bradesco reafirmou a expectativa de aprovação nos próximos meses, sem, contudo, estimar uma data precisa.

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