Em tempos de algoritmos, o desafio é manter autenticidade para gerar confiança e conexão. A tecnologia deve ser uma aliada e ferramenta poderosa que pode enriquecer a vida profissional e pessoal, mas não deve ditá-las
O Vale do Silício, nos Estados Unidos, é, de muitas formas, o centro da nossa era digital. Alguns podem argumentar que existem outros polos, mas é aqui que tudo nasceu. O ecossistema é e continua vivo e efervescente. Este é o lugar onde algoritmos são criados, desenvolvidos e liberados no mundo para transformar nossa realidade. Vivendo aqui e tendo a oportunidade de participar de algumas discussões, absorvo uma compreensão mais ampla dessas forças invisíveis que dirigem nossas vidas e carreiras. E isso me instiga muito a querer vivenciar mais a comunidade do Vale.
Recentemente, em uma das palestras que realizei aqui na Califórnia, uma pergunta de um participante ficou ressoando em minha mente por muito tempo. O questionamento, aparentemente simples à primeira vista, revelava camadas de complexidade e abria espaço para reflexões que eu já vinha fazendo.
Ele perguntou: “como posso ter certeza de que o conteúdo que leio nas redes sociais reflete as verdadeiras opiniões do autor?”. E completou: “frequentemente, sinto que estou lendo posts projetados para agradar aos algoritmos em detrimento da autenticidade do conteúdo”.
Adicionando a essa pergunta, trago um desconforto frequente dos meus clientes – profissionais da saúde que são aconselhados por suas equipes de marketing digital a compartilharem suas vidas pessoais para obter maior engajamento, mesmo isso sendo contra seus valores. Essa pergunta e essas orientações que muitos clientes recebem me levaram a refletir profundamente, e hoje vou compartilhar o que descobri nesta análise.
Até que ponto você está disposto a comprometer sua autenticidade por mais visibilidade? Esta pergunta poderia ser considerada a versão moderna do paradoxo do navio de Teseu, um dilema filosófico que questiona a identidade de um objeto em constante transformação. Se começarmos a modificar aspectos de nossa identidade para nos encaixarmos nos moldes dos algoritmos, permanecemos os mesmos? Ou nos tornamos uma projeção de algo que nunca foi verdadeiramente nós e perdemos nossa autenticidade?
O paradoxo do navio de Teseu explora questões de identidade, continuidade e transformação. Teseu, o herói mitológico, possui um navio que está constantemente sendo reparado. À medida que cada parte do navio se deteriora, ela é substituída por uma nova, idêntica. Eventualmente, todas as partes do navio são substituídas. A questão, então, é: o navio, após todas as suas partes terem sido substituídas, ainda é o mesmo “navio de Teseu”? E se todas as partes retiradas fossem reunidas e montadas em um novo navio? Qual seria o verdadeiro “navio de Teseu”?
Se os profissionais continuarem a ajustar sua comunicação pessoal para agradar a visibilidade algorítmica, correm o risco de se perderem em um ciclo interminável de retroalimentação. Se ajustamos cada palavra, cada hashtag, cada foto apenas para ganhar mais curtidas ou seguidores, estamos nos perdendo no meio disso tudo?
Tenho certeza que você vai concordar que não é agradável ser apenas um fantoche dos algoritmos, esquecendo quem realmente somos e o que realmente temos a oferecer. Então, minha provocação é: a que custo estamos dispostos a sacrificar nossa autenticidade para participar do jogo digital? O risco é nos tornarmos meras projeções de um algoritmo, desconectados de quem realmente somos e do valor autêntico que poderíamos trazer ao mundo.
Resistindo aos algoritmos
Viver em um mundo permeado por algoritmos tem seus benefícios. Receber informações e conteúdos que são de nosso interesse torna a experiência online mais fluida e agradável, economizando nosso tempo e energia. Estar rodeado por conteúdos e sugestões que nos agradam e interessam pode ser conveniente e reconfortante, gerando um senso de pertencimento e validação.
Contudo, essa personalização extrema, fruto do direcionamento algorítmico intenso, tem seu lado sombrio. Podemos nos fechar em uma “bolha” de informações similares e confortáveis, ignorando a diversidade de pensamentos e a exposição a novas ideias e perspectivas. Esse isolamento intelectual pode levar a um empobrecimento de nossa compreensão do mundo e à criação de um terreno fértil para a polarização e intolerância.
Diante disso, surgem algumas perguntas: como podemos manter nossa autenticidade em um mundo onde a visibilidade online é, muitas vezes, sinônimo de sucesso? Como podemos usar os algoritmos a nosso favor sem nos tornarmos escravos deles? Como resistir à pressão constante para moldar nossas vidas online de acordo com o que é popular, em detrimento do que é verdadeiro?
Estas são perguntas que não têm respostas fáceis, e cada pessoa pode encontrar um caminho diferente para navegar por esse terreno delicado. Manter a autenticidade online é um desafio diário e requer reflexão, consciência e, às vezes, a coragem de ir contra a maré.
O valor da autenticidade e da verdadeira conexão humana é inestimável e, no final das contas, é isso que realmente importa. A tecnologia e os algoritmos são ferramentas poderosas que podem enriquecer nossas vidas, mas não devem ditá-las. É crucial lembrar quem somos e o que realmente valorizamos, mantendo nossa essência em um mundo digital que, por vezes, parece favorecer a aparência em detrimento da substância.
Essa luta diária contra o anonimato online e a busca pela verdadeira expressão são, de muitas formas, uma jornada em busca da própria alma, na qual o equilíbrio e a consciência são fundamentais. Não temos que ser prisioneiros dos algoritmos. Podemos usá-los como ferramentas para compartilhar nossas verdadeiras vozes e fazer a diferença no mundo digital, resgatando nossa autenticidade e integridade.
A inteligência artificial deve ser aliada e não inimiga da sua marca pessoal. Ou você correrá o risco de perder sua autenticidade e deixar de ser quem você é.
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