Por: Carlos Alberto dos Santos
Nos últimos meses tive a oportunidade de palestrar em diversos seminários e fóruns sobre os desafios do cooperativismo financeiro no segmento pessoa jurídica.
Este é um debate estratégico muito profícuo e necessário. Não é exagero afirmar que os grandes desafios do cooperativismo financeiro brasileiro estão intimamente relacionados ao seu crescimento neste segmento empresarial.
Minha contribuição neste debate gira em torno de dois desafios estratégicos, com consequências práticas de grande importância para a gestão das cooperativas financeiras.
O primeiro desafio estratégico é o da ampliação da carteira de crédito PJ com redução de custos para a cooperativa e para o cooperado. O eixo estruturante para o enfrentamento desse desafio é a busca incessante da mitigação do risco de crédito por meio da redução da assimetria de informações ou, para ser mais exato, redução da distribuição assimétrica das informações entre a demandante e o ofertante de crédito e utilização de mecanismos alternativos de garantias.
As grandes dificuldades dos agentes financeiros tradicionais, mas também de muitas cooperativas, para atender os pequenos negócios é consequência direta de estratégias que não levam em conta as especificidades deste tipo de empresa.
Os pequenos negócios não são apenas pequenos, mas também diferentes das empresas de “livro texto”. Eles se caracterizam pela não separação entre propriedade e gestão, entre capital e trabalho e, entre consumo e investimento. Os modelos tradicionais de análise de risco não são compatíveis com a complexidade e ambiguidade destas relações socioeconômicas com alto grau de informalidade, inexistentes nas análises microeconômicas tradicionais.
Elas dificultam sobremaneira a diferenciação dos fluxos monetários do empreendedor (e sua família) e do negócio. Com isto, o chamado “bolso único” induz à uma percepção de risco extremamente elevada, muito superior ao risco efetivo da operação. Soma-se a sua incapacidade de oferecer garantias tradicionais, não surpreende, portanto, que os pequenos negócios encontrem grandes dificuldades de acesso ao crédito no sistema financeiro.
Segmentação, produtos, serviços e canais de atendimento diferenciados são os desafios operacionais de uma cooperativa para o atendimento de seu cooperado PJ. Aqui não podemos ter dúvida, neste segmento, copiar as práticas dos bancos comerciais de varejo não é uma alternativa para as cooperativas financeiras.
Finanças de proximidade para reduzir a assimetria de informações e identificar e precificar os riscos envolvidos na operação. Para substituir a falta de garantias tradicionais, a criação das Cooperativas de Garantias de Crédito, a luz da experiência das onze Sociedades de Garantias de Credito em operação atualmente, aponta para um caminho promissor, a exemplo da experiência bem-sucedida em diversos outros países.
O segundo desafio é, ao mesmo tempo, uma oportunidade para superar o anterior: reduzir a assimetria de informações e utilizar mecanismos de garantias alternativos são mais viáveis quando o cliente é dono do agente financeiro.
De fato, o grande diferencial competitivo de uma cooperativa financeira frente aos bancos é a sua possibilidade de realizar um atendimento diferenciado, personalizado, que valoriza relações de proximidade com o cooperado e a sua comunidade. Esta é a essência do conceito de “pertencimento” para o cooperativismo.
Dito de outra forma, pertencimento é o diferencial competitivo de uma cooperativa financeira no segmento pessoa jurídica.
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