Por: Guilherme Meirelles
A alta na taxa de juros e o maior rigor dos bancos na hora de conceder empréstimos provocaram um recuo na demanda por linhas de crédito voltadas para PMEs. A queda foi maior nas linhas de investimento, com prazos mais longos, predominantemente oferecidas pelo BNDES e repassadas pelos principais bancos de varejo.
Com a crise econômica, a maior demanda tem sido por linhas para capital de giro, com taxas médias a partir de 1,7% ao mês, conforme o porte do cliente. Para manter o tomador, os principais bancos de varejo buscam oferecer serviços e benefícios, na esperança de uma redução nos atuais níveis de juros, com base em uma retomada do crescimento da economia e em uma política do Banco Central que reduza gradativamente a taxa Selic.
Termômetro do apetite de investimento das PMEs, o BNDES fechou o primeiro semestre com números negativos comparados a igual período de 2015. Os desembolsos ficaram em R$ 13,785 bilhões, com 311.585 operações realizadas, o que significou uma queda de 30,19% e 32,86%, respectivamente. Em 2015, o volume havia sido de R$ 19,746 bilhões em 464.079 operações.
Os números apontam para uma tendência de queda que vem sendo observada desde 2013, quando houve o desembolso recorde de R$ 63,543 bilhões. No ano passado, o montante atingiu R$ 37,353 bilhões, volume que não deve ser alcançado em 2016, que promete ser o pior número desde 2010. As operações automáticas por meio do cartão BNDES, com prazo de até 48 meses e juros de 1,2% ao mês, também acompanharam o movimento de queda – foram 243.578 operações no semestre (queda de 36%), com volume de negócios em R$ 3,293 bilhões (baixa de 44%).
Apesar de serem consideradas PMEs as empresas com faturamento anual até R$ 90 milhões, os bancos de varejo possuem critérios próprios em seus modelos de crédito. Em comum, trabalham em três frentes: repasse de linhas de investimento do BNDES, capital de giro e antecipação de recebíveis (adiantamento do recebimento das vendas realizadas por meio de cartão de crédito, cheques pré-datados e duplicatas).
Com cerca de 2,3 milhões de PMEs (com faturamento anual de até R$ 25 milhões), o Banco do Brasil desembolsou R$ 80 milhões nos últimos 12 meses em linhas de capital de giro, antecipação de recebíveis e financiamento. “É uma redução de 20% em relação aos anos anteriores”, afirma Ilton Luis Schwaab, diretor de micro e pequenas empresas do BB.
Cerca de 80% dos clientes têm relacionamento com o banco há mais de cinco anos, o que permite ao BB oferecer serviços diferenciados, como custódia de cheques, cartão de múltiplas funções e tarifas reduzidas na cobrança de títulos. Segundo o diretor, as linhas mais acessadas são as de antecipação de recebíveis e de capital de giro, como a Progeren, que oferece prazo de até 60 meses e carência de 12 meses para a primeira parcela. O BB conta com quatro mil gerentes especializados e 19 agências específicas para atendimento às PMEs.
Maior banco repassador das linhas do BNDES, o Bradesco registrou no primeiro semestre desembolsos de R$ 97,345 bilhões, queda de 5,7% comparada ao mesmo período de 2015. A soma inclui as linhas de capital de giro e antecipação de recebíveis do banco. A expectativa de Altair Antonio de Souza, diretor executivo, é que haja um reaquecimento no segundo semestre com a abertura de linha de capital de giro voltada para o pagamento do 13º salário e de tributos. “Mais de 90% dos pedidos são para capital de giro. As empresas menores se preocupam com as obrigações do dia a dia”, diz.
O tíquete médio ficou em torno de R$ 50 mil, diz o diretor. Para fidelizar os cerca de 1,5 milhão de clientes, o Bradesco tem investido na capacitação de 6,6 mil gerentes exclusivos por meio de parcerias com o Sebrae. “O gerente precisa entender as necessidades das PMEs”, diz Souza.
Para André Daré, diretor de empresas do Itau Unibanco, as estratégias bancárias não devem se restringir à oferta do crédito. “Deve haver uma oferta integrada de serviços. Para isso, aprimoramos o serviço de controle de fluxo de caixa e processos de pagamento, recebimento e cobrança”, diz.
Segundo Daré, o banco tem apostado nos serviços digitais, como contratação de linhas por canais eletrônicos e alertas para vencimento de boletos. O banco oferece ainda a Conta Certa, pacote de serviços personalizados conforme o porte e as necessidades da empresa. No segundo trimestre, o estoque da carteira de crédito das PMEs ficou em R$ 62,239 bilhões.
Com cerca de dois milhões de clientes, a Caixa Econômica Federal adota ações pontuais, como a redução da taxa (de 0,96% para 0,89%/mês) da linha Progeren para indústrias instaladas no Norte e Nordeste. Segundo Eugenia Regina de Melo, superintendente nacional de estratégia de micro e pequeno empreendedorismo, em setembro serão lançadas novas linhas para capital de giro, com carência de até seis meses.
Em 2015, o Santander passou a adotar um novo modelo de segmentação de empresas. Segundo Marcelo Aleixo, superintendente executivo de PMEs, o banco oferece produtos específicos para as empresas com faturamento de até R$ 2 milhões. O banco lançou também o Programa Avançar, que oferece capacitação, desenvolvimento e internacionalização das PMEs.
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.