Trabalho em uma grande empresa e, alguns meses atrás, fui abordada por uma recrutadora via redes sociais. Interessei-me pela vaga e passei por três entrevistas, inclusive uma em inglês com um executivo da matriz, além de fazer uma prova escrita. Após três semanas sem nenhuma notícia, fiquei sabendo que uma colega de trabalho estava deixando a empresa para ocupar justamente essa mesma vaga. Foi uma péssima maneira de descobrir que não tinha sido aprovada. Para piorar, soube que outras duas pessoas do escritório também estavam concorrendo comigo. No fim das contas, fiquei com a sensação de ter sido desrespeitada durante a condução do processo. Recentemente, outra empresa de recrutamento me procurou, mas tenho receio de novamente perder tempo, ficar ansiosa, gastar energia e nem ao menos receber um feedback decente. O que devo fazer?

Administradora, 29 anos

Resposta:

Antes de tudo, prometa a si mesma que não desistirá de participar de nenhum processo seletivo que realmente lhe interesse. A experiência que você descreve foi frustrante, mas a possibilidade de frustração é uma das regras desse jogo, assim como a imprevisibilidade: não há como prever se o mesmo ocorrerá novamente.

Ao ler sua mensagem, parte de uma frase atribuída a Winston Churchill, o célebre líder britânico, logo me veio à mente: “Se as pessoas soubessem como são feitas as leis, talvez não as obedecessem”. A mesma ideia pode ser aplicada a alguns processos seletivos.

Muito provavelmente, o profissional que estivesse ciente de todos os seus detalhes não se candidataria, e foi o que ocorreu com você: teve acesso a algumas informações mais aprofundadas. Só que você não pode deixar isso abatê-la, assim como ninguém pode deixar de obedecer às leis de seu país.

A busca do “candidato ideal” é complexa e demorada, e muita gente precisa ser cortejada enquanto não se encontra a pessoa certa para o lugar certo. Isso se justifica, porque o recrutamento é uma das decisões de gestão mais vitais ao sucesso de uma organização, como gosta de enfatizar o pesquisador da área Jim Collins. Muitos candidatos ficam na reserva até que a pessoa ideal seja encontrada – ou, se isso não acontecer, até que o perfil do cargo seja flexibilizado.

As variáveis consideradas em um processo seletivo são inúmeras, desde formação e competências até características de personalidade, valores, encaixe na cultura organizacional e a “química” entre líder e liderado. O que chamamos de química é algo intangível, mas tão decisivo nos relacionamentos profissionais como nos pessoais.

Sem dúvida, seria de bom tom a recrutadora lhe dar um retorno. O feedback é uma atitude de respeito e agradecimento ao profissional e funciona como uma porta aberta para processos seletivos futuros. Porém, se a iniciativa não partiu da consultoria de recrutamento, que tal você pedir diretamente que ela o dê?

Não se intimide em fazê-lo. Afinal, você dedicou seu tempo ao processo. Um feedback, se for sincero e bem dado, é sempre um presente para a gestão da carreira. Ele tende a contribuir para sua tomada de decisão em futuras oportunidades, inclusive no que diz respeito a sair de sua empresa atual.

Falemos, por fim, da nova oportunidade que está aparecendo. Vá em frente, buscando saber mais sobre a posição e a empresa. Assim, você pode decidir mais facilmente se continua ou não no processo. Não basta a empresa estar interessada de você, você também precisa estar motivada em conhecer mais sobre ela.

É fundamental fazer uma boa pesquisa sobre a companhia, seu histórico, os valores, a cultura, o perfil do gestor a quem você se reportaria e o motivo de a vaga estar aberta. Muita gente acha que é difícil fazer tal mapeamento, mas não é. Hoje, temos muita informação disponível sobre quase todas as empresas e quase todos os executivos.

A falta de retorno em um processo seletivo costuma mesmo desanimar as pessoas. Seu caso não é o primeiro nem será o último. Isso gera sentimentos negativos como injustiça e insegurança, mas afaste essas ideias. Você ganhou experiência e isso é sempre importante. Não tenha dúvidas de que muitas oportunidades surgirão. Cuide você para ser a pessoa certa no lugar certo, como diz Jim Collins, e na hora certa. Às vezes, ficar onde estamos é o que atende a essa equação.

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