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Calote em grandes varejistas sobe 22%

por: Afonso Bazolli
em: Cobrança
fonte: Valor Econômico
14 de junho de 2016 - 18:08

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Por: Adriana Mattos

Com a recessão e a crise no varejo, uma das piores da história recente do setor, aumentou o volume de contas em atrasos nas lojas e, por consequência, o tamanho das perdas das varejistas. O total de créditos vencidos no comércio foi a R$ 2,16 bilhões no primeiro trimestre, avanço de 22% sobre o mesmo período do ano anterior, segundo cálculos do Valor com base em balanços de 11 varejistas de capital aberto. Analistas chamam atenção para o aumento na taxa, mas acreditam que não há sinal de descontrole na concessão de crédito e perdas no comércio.

Essa soma em créditos vencidos em até 180 dias equivale a quase um quarto das vendas anuais do Magazine Luiza, segunda maior varejista de eletroeletrônicos do país. O cálculo se baseou em redes líderes em seus mercados, historicamente mais seletivas na concessão de crédito do que as médias e pequenas cadeias. Fizeram parte do levantamento Grupo Pão de Açúcar, Via Varejo, Lojas Americanas, B2W, Raia Drogasil, Magazine Luiza, Riachuelo, Renner, Marisa, Hering e Restoque.

Já as provisões para devedores duvidosos, que apontam perdas com a inadimplência superior a 180 dias, atingiram R$ 1,12 bilhão até março, alta de 15%, mas 16,7% menor do que o apurado no último trimestre de 2015, período em que a inadimplência cai por causa do pagamento do décimo terceiro salário. É possível a reversão do prejuízo se a dívida for paga.

Ao se somar provisões já contabilizadas e as dívidas vencidas (que ainda não viraram provisão), o montante atinge R$ 3,3 bilhões no primeiro trimestre, alta de 22,2% sobre igual período de 2015.

Na avaliação de Claudio Felisoni, presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo, há risco de aumento das perdas do setor com o calote de consumidores que perderam seus empregos neste ano. Esses atrasos nos pagamentos só ficarão mais claros nos balanços do segundo semestre, diz ele. “Há um ‘delay’ entre aumento do desemprego e reflexos nas contas das varejistas. Eu entendo que ainda podemos ter uma piora nas perdas com inadimplência neste ano, mesmo com as concessões de financiamento mais seletivas”.

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), é um aumento que precisa ser acompanhado de perto, mas não indica descontrole ou irresponsabilidade na concessão de recursos. Na última década as cadeias aprimoraram as áreas de inteligência em crédito, usando a experiência dos bancos, e isso limita erros. “Podem aparecer, daqui para frente, redes dando mais financiamento para ganhar fatia do mercado porque, quando há sinais de que o varejo pode voltar a crescer, quem tiver mais ‘share’ sai na frente. Então, a rede financia mais para ter mais mercado, e pode perder com a inadimplência”.

Para contabilizar a provisão para devedores duvidosos, as redes consideram contas com mais de 180 dias em atraso porque entendem que, após esse período, o débito provavelmente não será mais pago, com impacto direto no resultado trimestral. Há resolução do Banco Central, de 1999, válida para as financeiras (algumas delas, parcerias das redes) determinando percentual mínimo de provisão obrigatória para cada faixa, segundo dias de atraso (30 a 60 dias, 61 a 90 dias, assim por diante).

O que ocorre é que, caso a financeira ou o banco não aceitem financiar determinado cliente, por considerá-lo mau pagador, a varejista pode decidir fazê-lo, por meio de carnês, cheques ou cartão de crédito próprio. É aí que a cadeia corre o risco de ser afetada pelo calote. As redes pequenas, sem parceria com financeiras, e com critérios de concessão menos conservadores – pois precisam se arriscar para vender e fazer caixa – são as mais atingidas pelos períodos de aumento de inadimplência.

“As redes menores precisam vender e estão mais endividadas do que a média, e elas ainda têm controles deficientes”, diz Felisoni.

Na contabilidade para provisão de devedores duvidosos é preciso considerar ainda o não pagamento de verbas da indústria para o varejo, relativas à bonificação de compras de mercadorias. Essa bonificação, muitas vezes, entra no balanço como venda, mas se a meta acertada entre as partes não é atingida, é preciso provisionar a soma. Raramente isso fica claro em notas explicativas dos balanços.

Em períodos de retração econômica, há tendência de a rede computar mais perdas no balanço, não só porque a economia vai mal. Parte das companhias considera que, como os resultados já serão afetado pelo cenário difícil, incluir essas perdas “limpam” o balanço num momento em que o mercado já espera piora nos números.

De janeiro a março, as empresas com maiores taxas de crescimento nos valores vencidos de contas a receber de clientes foram Restoque (144%), Riachuelo (124%), B2W (87%) e Hering (50%). Já entre maiores altas nas provisões estão Raia Drogasil (461%), Restoque (222%) e Riachuelo (105%). Houve queda ou estabilidade nas perdas no Magazine Luiza e na Marisa.

Na Riachuelo, a soma atingiu quase R$ 160 milhões em março, refletindo perdas com a Midway, a financeira da rede. Na linha de empréstimo pessoal e saque fácil do cartão da financeira, a perda cresceu 85%, para R$ 32,5 milhões. O percentual de perda para empréstimo pessoal e cartão Riachuelo foi a 17% (era 11% em março de 2015).

Atrasos nos cartões das varejistas têm sido destaque em relatórios de analistas. Na Renner, segundo esses analistas, a atenção está na área de empréstimo pessoal e cartão de crédito (com bandeira própria). A provisão para perdas em cartões subiu de R$ 13 milhões para R$ 20 milhões entre março de 2015 e 2016.

Semanas atrás, a direção da Renner afirmou a analistas que espera estabilização da inadimplência em cartões em patamar acima de 2015. “A taxa de inadimplência é maior por causa do crédito rotativo, que, por outro lado, nos dá maior rentabilidade”, disse o diretor financeiro, Laurence Gomes.

Maior rede de farmácias do país, a Raia Drogasil apurou alta na provisão de R$ 1,3 milhão para R$ 7,3 milhões no mesmo intervalo, reflexo em grande parte de uma perda de quase R$ 6 milhões no atraso de pagamento do Programa de Benefícios de Medicamentos relacionado com a Petrobras. “Além desse montante, que decidimos ser conservadores e calcular como perda, ainda há verbas da indústria [bonificações pela venda, que não entraram]. Inadimplência de clientes é baixa porque não vendemos no crediário e recebemos poucos cheques”, diz Eugênio De Zagottis, vice-presidente da empresa.

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