Por: Andrew Blackman
A pergunta é antiga: o dinheiro pode comprar a felicidade?
Ao longo dos últimos anos, novas pesquisas têm nos dado uma compreensão mais profunda da relação entre o que ganhamos e como nos sentimos. Os economistas têm examinado as relações entre renda e felicidade nos países, e os psicólogos têm sondado as pessoas para descobrir o que realmente nos move quando se trata de dinheiro.
Os resultados, à primeira vista, podem parecer um pouco óbvios: Sim, as pessoas com renda mais alta são, em geral, mais felizes do que aquelas que lutam para sobreviver.
Mas analisando um pouco mais profundamente os resultados, eles se tornam bem mais surpreendentes – e muito mais úteis. Em suma, esta última pesquisa sugere que a riqueza por si só não fornece qualquer garantia de uma boa vida. O que importa muito mais que ter uma alta renda é a forma como as pessoas gastam. Doar dinheiro, por exemplo, deixa as pessoas muito mais felizes do que quando gastam com si próprias. E quando elas gastam com elas mesmas, ficam bem mais felizes quando usam o dinheiro para experiências como viagens do que quando compram bens materiais.
Aqui está o que a mais recente pesquisa revela sobre como as pessoas podem fazer uso inteligente de seu dinheiro e maximizar a sua felicidade.
Experiências valem mais do que você pensa.
Numerosos estudos feitos ao longo dos últimos dez anos têm demonstrado que as experiências de vida nos dão um prazer mais duradouro do que as coisas materiais. No entanto, as pessoas muitas vezes negam a si mesmas essas experiências e priorizam a compra de bens materiais.
Ryan Howell, professor associado de psicologia na Universidade Estadual de San Francisco, decidiu analisar isso. Segundo estudo publicado no início do ano, ele descobriu que as pessoas pensam que as compras materiais oferecem melhor benefício em relação ao custo porque as experiências são passageiras e os bens materiais duram mais. Assim, embora possam fazer uma extravagância ocasional, como uma grande viagem de férias, quando estão num momento de maior racionalidade com relação ao dinheiro, dão preferência aos bens materiais.
Mas, na verdade, Howell descobriu que quando as pessoas voltavam a pensar sobre as compras que fizeram, percebiam que as experiências foram mais valiosas para elas. “O que descobrimos é que há uma expectativa enormemente equivocada”, diz.
Thomas Gilovich, professor de psicologia da Universidade Cornell, chegou a conclusões semelhantes. “As pessoas muitas vezes fazem um cálculo racional: Tenho uma quantidade limitada de dinheiro e posso viajar para tal lugar ou então comprar tal coisa”, diz. “Viajar seria ótimo, mas vai acabar num instante. Se eu comprar essa coisa, pelo menos vou tê-la para sempre. Isso é verdade factualmente, mas não psicologicamente. Nós nos adaptamos aos nossos bens materiais.”
É esse processo de “adaptação hedonista” que torna tão difícil comprar a felicidade por meio de aquisições materiais. As experiências em geral atendem mais às nossas necessidades psicológicas subjacentes, diz Gilovich. Muitas vezes elas são compartilhadas com outras pessoas, dando um sentido maior de conexão, e formam uma parte maior do nosso senso de identidade. E, o que é fundamental: em geral não comparamos nossas experiências com as de outras pessoas tanto quanto fazemos com as coisas materiais, diz ele.
Não se adapte ao que compra Um grande motivo pelo qual ter mais coisas nem sempre nos torna felizes é que nós nos adaptamos a elas. “O ser humano tem grande capacidade de se acostumar com mudanças na vida, especialmente mudanças positivas”, diz Sonja Lyubomirsky, professora de psicologia na Universidade da Califórnia em Riverside. “Se você tiver um aumento na renda, isso dará um estímulo, mas logo as suas aspirações vão crescer também [...]. Tentar evitar ou desacelerar isso é realmente um desafio.” Uma abordagem que pode funcionar, diz ela, é tentar conscientemente ter apreço e gratidão pelo que você tem.
Aumentar a variedade, as novidades ou as surpresas também pode ajudar você a desfrutar mais do que tem. “Quando as coisas se tornam imutáveis, é aí que você se adapta a elas”, diz Lyubomirsky. Tente compartilhar seus bens com outras pessoas e se abrir para novas experiências, diz ela.
Tente doar
O paradoxo do dinheiro é que, embora ganhar mais geralmente melhore nosso bem-estar, ficamos mais felizes quando doamos dinheiro do que quando o gastamos conosco.
Essa é a conclusão de uma série de estudos feitos por Elizabeth Dunn, professora associada de psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica e uma das autoras do livro “Dinheiro Feliz – A Arte de Gastar com Inteligência”, publicano no Brasil pela JSN Editora. Ela começou distribuindo dinheiro para os estudantes no campus; para alguns disse para gastá-lo com coisas para si mesmos e a outros para gastá-lo com alguma outra pessoa. Os que gastaram com os outros ficaram mais felizes.
Desde então, Dunn já repetiu a experiência em outros países e a ampliou para examinar se as pessoas continuavam felizes quando davam seu próprio dinheiro, não dinheiro que lhes foi entregue por uma professora. Ela descobriu que em países tão diversos como Canadá, África do Sul e Uganda, dar dinheiro consistentemente tornava as pessoas mais felizes, mesmo quando elas mesmas eram relativamente pobres.
O que faz aumentar a felicidade não é tanto o quanto de dinheiro que você dá, segundo Dunn, mas o impacto que você percebe que a sua doação exerceu.
Não deixe de comprar o tempo
Também é importante considerar como aquilo que você está comprando vai afetar a forma como você gasta seu tempo. “Use o dinheiro para comprar um tempo de melhor qualidade para você mesmo”, diz Dunn. “Não compre um carro um pouco mais sofisticado [...] compre uma casa perto do trabalho, para que assim você possa usar o restinho da luz do dia para jogar bola no parque com seus filhos.”
O dinheiro só traz felicidade até certo ponto
Os que estudam o tema dividem a felicidade em dois componentes, e é preciso que as duas partes estejam funcionando bem para que a pessoa seja verdadeiramente feliz. A primeira medida da felicidade é “avaliativa”. Lyubomirsky a define como “a sensação de que sua vida é boa – você está satisfeito com a sua vida, você está progredindo em direção aos seus objetivos de vida”. O outro componente é o “afetivo” e se refere à frequência com que você experimenta emoções positivas, como alegria, carinho e tranquilidade, em contraste com as negativas, explica Lyubomirsky.
Daniel Kahneman e Angus Deaton, da Universidade de Princeton, descobriram quando examinavam as medidas afetivas que a felicidade não aumentava depois que a renda familiar anual chegava a cerca de US$ 75 mil. (Eles constataram, porém, um aumento consistente na satisfação geral com a vida.)
Em resumo, quando você não tem muito dinheiro, um pouquinho mais pode fazer muita diferença, porque você tem necessidades mais essenciais para satisfazer. Mas à medida que você acumula mais riqueza, vai ficando mais difícil continuar “comprando” mais felicidade.
Não se afunde em dívidas
Por fim, os pesquisadores concordam que gastar mais do que se ganha é um caminho para a infelicidade. Cuidar das suas necessidades básicas e alcançar certo nível de segurança financeira é importante.
Gilovich diz que, embora sua pesquisa mostre que as experiências de vida proporcionam mais felicidade do que os bens materiais, as pessoas devem, é claro, comprar os bens essenciais em primeiro lugar.
Alguns estudos já mostraram que as dívidas têm um efeito negativo sobre a felicidade, enquanto a poupança e a segurança financeira a elevam. Uma pesquisa em lares britânicos descobriu que os mais endividados relataram menor felicidade, e uma pesquisa separada sobre casais mostrou que os mais endividados também tinham mais conflitos conjugais.
“A poupança é boa para a felicidade; a dívida é ruim para a felicidade. Mas a dívida tem mais potencial negativo do que a poupança tem potencial positivo”, diz Dunn.
Assim, antes de sair e gastar todo o seu dinheiro naquela sonhada viagem de férias, certifique-se de que você já garantiu suas necessidades básicas, pagou suas dívidas e tem dinheiro suficiente para se proteger dos piores problemas da vida.
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