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As lições de Sherlock Holmes para Administração

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Administradores.com
15 de dezembro de 2015 - 18:02

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O que um detetive britânico da ficção e do século 19 pode nos ensinar sobre negócios atuais ou sobre carreira? Elementar, meu caro leitor. Está na hora de investigarmos e descobrirmos

Por: Fábio Bandeira

Junte uma capa xadrez bege, um cachimbo curvado, uma boina de caçador e uma lente de aumento para idealizar um dos mais populares personagens da ficção. Com mais de 100 anos após a sua criação, Sherlock Holmes ainda é tão atual quanto sua primeira aparição em 1887, escrita por Sir Arthur Conan Doyle. Um dos fatores para isso é o ciclo de reaproveitamento da indústria de entretenimento sobre suas histórias. São filmes, seriados, livros, jogos, revistas especializadas e mais de 250 sociedades e fã-clubes ativos no mundo.

Se pensarmos em termos mercadológicos do “produto Sherlock Holmes”, os números são surpreendentes. Somente a saga do detetive em dois longas-metragens, estrelado pelo ator Robert Downey Jr., ultrapassou a casa de um bilhão de dólares em receita. As ações e campanhas bem exploradas sobre o detetive mais famoso de Scotland Yard dariam, certamente, boas aulas de marketing. No entanto, o aprendizado de Holmes pode ir além – e há aqueles que defendem que suas técnicas são facilmente aplicadas no dia a da dos negócios ou na carreira dos profissionais.

O jornalista e escritor americano David Acord é um desses defensores. Para ele, que é um profundo conhecedor e pesquisador sobre o personagem – e autor do livro Enxergue o óbvio como Sherlock Holmes -, o detetive é composto por algumas das maiores qualidades que um ser humano pode possuir. “Algumas pessoas podem perguntar: ‘Por que eu iria querer modelar minha vida com um personagem de ficção, especialmente um que foi escrito a mais de cem anos?’ Não há problema em ser cético, Sherlock certamente aprovaria! Mas o que você tem que lembrar é que Holmes era, em muitos aspectos, um reflexo de seu criador. Sir Arthur Conan Doyle era um gênio em todos os sentidos da palavra: médico, autor prolífico, aventureiro, historiador, intelectual – ele fez tudo isso. Ele derramou uma grande quantidade de sua sabedoria e insights sobre o personagem de Holmes”, indica David, complementando a influência de professores e mentores na criação do personagem. “Muitas habilidades do detetive, como a sua capacidade de deduzir toda a história de vida de uma pessoa, por exemplo, foram baseadas nas habilidades dos homens da vida real que Conan Doyle teve a sorte de estudar na faculdade de Medicina”, explica David.

Com habilidades reais que acompanham Holmes, muitas dessas características são virtudes admiradas no mundo corporativo. Foco obsessivo; objetivos no trabalho; incapacidade para aceitar a mediocridade; desejo primordial de mais conhecimento; uma vontade de assumir riscos enormes. “A verdade é que estas mesmas qualidades poderiam ser usadas para descrever alguns dos empresários mais bem-sucedidos dos tempos modernos: Steve Jobs, Richard Branson ou Donald Trump”, relata o jornalista.

Desvendando o mistério

Algumas das mais apreciadas qualidades de Sherlock Holmes estão em três princípios básicos: observação, dedução e conhecimento. Holmes foca em todos os detalhes para resolver um caso, até mesmo nos que a polícia ignora, aqueles que não parecem tão importantes. Em A case of identity (Um caso de identidade), Holmes fala: “Tem sido um axioma meu que as pequenas coisas são infinitamente mais importantes”. E em The man with the twisted lip (O homem com o lábio torto), ele observa: “É, naturalmente, um supérfluo, mas não há nada tão importante como supérfluos”.

A psiquiatra russa Maria Konnikova, colunista da revista Scientific American, é uma dessas entusiastas sobre o poder para desvendar mistérios usado por Holmes. O aprofundamento no assunto rendeu até o livro Perspicácia: aprenda a pensar como Sherlock Holmes. Segundo Konnikova, um dos segredos de Holmes está em focar sua concentração total em apenas um assunto por vez, ao invés de muitas coisas ao mesmo tempo. Para a psiquiatra, o que é considerado multitarefa, na verdade, é o cérebro focando em outra tarefa.

No primeiro livro do detetive, Um estudo em vermelho, Holmes usa a metáfora do “sótão vazio” para explicar a Watson esse conceito. Para Holmes, nosso cérebro é um sótão, inicialmente vazio, que deve ser mobiliado aos poucos. “Um tolo o abarrota com todas as quinquilharias que encontra pela frente, a ponto de os conhecimentos que lhe poderiam ser úteis acabarem soterrados”, diz Holmes.

A psiquiatra Konnikova descreve em seu livro também dois sistemas distintos de funcionamento do cérebro. Nele, a autora atribui o sistema Watson (modo automático, espontâneo e intuitivo) e o sistema Holmes (analítico, dedutivo e ambicioso). Em uma empresa, essa relação de ambos os sistemas é ainda mais fácil de ser visualizada. No sistema Watson, os funcionários aceitam tudo como verdadeiro, sem conferência da autenticidade em um projeto. Esse modelo, apesar de ser mais rápido, pode ocasionar falhas de interpretação, checagem e até erros de diretrizes. No modelo de Holmes, a atenção é plena, com análises mais aprofundadas dos fatos e conferências sobre todo o processo de um trabalho.

Outro fator destacado pela colunista da Scientific American como indiscutivelmente importante para Holmes está em seu poder de imaginação. Ela defende que, através de uma observação detalhada, podemos encontrar soluções inusitadas para os problemas que enfrentamos. E era assim, ao explorar a potencialidade criativa, que o detetive chegava a resoluções caso a caso.

De fato, Sherlock Holmes tinha o hábito de resolver problemas insolúveis e alcançar o que todos pensavam ser impossível. Essa razão faz com que o detetive seja inspiração real e relevante para muita gente, mesmo sendo um personagem do século 19. Afinal, podemos sempre aprender com os melhores, independentemente do período de tempo em que viveram – ou, neste caso, foram criados.

Técnicas de Sherlock Holmes para usar em seu dia a dia (elaboradas pelo jornalista David Acord).

1 – Tenha informações

Uma das chaves do seu sucesso é que Holmes se recusa a tomar uma decisão sem bons dados. “É um erro capital teorizar antes de ter todas as provas”, já disse o detetive. Isso remonta à formação científica de Conan Doyle. Para ser bem sucedido, você tem que resistir à tentação de tomar decisões rápidas antes de todas as provas.

2 – Esteja aberto a possibilidades

Não descarte à primeira vista ideias que parecem malucas ou impossíveis. Em A aventura da caixa de papelão, Holmes delineou seu método para resolver um mistério complicado: “Abordamos o caso, lembre-se, com uma mente absolutamente em branco, o que é sempre uma vantagem. Nós tínhamos formado teorias. Estávamos lá simplesmente para observar e fazer inferências a partir de nossas observações”, destacou na obra.

3 – Não tenha medo de sujar as mãos

Holmes rastejava no chão sujo de uma cena de crime e entrava em qualquer buraco onde pudesse encontrar alguma pista. Os detetives da Scotland Yard não seriam pegos fazendo o que Holmes fazia por medo de serem ridicularizados por seus pares. Mas era exatamente isso que fazia o detetive resolver os casos primeiro. Ele não se importava em colocar a mão na massa.

4 – Cuidado com a intuição

Holmes era famoso por não deixar emoções afetarem seu julgamento ou a busca pela verdade. Isso também é crucial na tomada de decisões de negócios importantes. Nos livros, Holmes repetidamente advertiu Waltson sobre fazer conclusões antes de analisar todas as evidências disponíveis.

5 – Divirta-se

O que impulsonava Holmes a sair da sua cama confortável e cair na fria noite de Londres não era uma chance para melhorar sua conta bancária, pagar duas despesas ou fama. Ele encarava os casos porque gostava, porque se divirtia. Resolver um caso era seu sentido de realização e satisfação.

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