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08 de abril de 2015 - 18:09 - atualizado às 19:40

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O presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que a sua instituição mantém a oferta de recursos, mas administra o ritmo de crescimento das linhas de financiamento. Para ele, estimular alta hoje seria “chocar ovo de serpente”

Por: Léa de Luca

Juros altos, economia desacelerando, corte de gastos, ameaça de desemprego. Este não é o momento de expandir o crédito. “Mantemos a oferta de recursos, mas estamos administrando o ritmo de aumento. Se estivéssemos acelerando dentro desse cenário atual, estaríamos chocando um ovo de serpente”, disse Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. “O Brasil não está maduro hoje para uma alta exagerada do crédito”.

Trabuco Cappi disse que um dia os juros aqui serão iguais aos praticados nos outros países. “Se isso não acontecer, o Brasil não terá dado certo”, afirma. No entanto, o executivo faz questão de reforçar que o tamanho dos juros aqui não é responsabilidade dos bancos: “Os spreads e as margens são iguais aos dos outros bancos no mundo. Os juros são altos por causa dos compulsórios e da cunha fiscal”, explica.

Spread é a diferença entre o que o banco paga para os investidores e o que cobra dos tomadores de empréstimos. Cunha fiscal são os impostos incidentes sobre as operações, e os compulsórios são percentuais dos depósitos que o Banco Central obriga os bancos a recolherem, sem pagar remuneração.

“As exceções são as linhas de mais alto risco, como crédito rotativo no cartão e cheque especial — linhas que não existem lá fora”, disse Cappi. O executivo foi enfático sobre o caminho para superar a fase difícil — que ele batizou de “ambígua” — pela qual o Brasil está passando neste momento. “Ao chegar em dezembro, não teremos aumento do PIB para comemorar, mas sim a conclusão dos ajustes. Não há um plano B nem um plano C para o Brasil, agora é preciso fazer o ajuste fiscal. Como diria Maquiavel em O Príncipe, é melhor fazer todo o mal logo de uma vez”, disse a uma plateia de clientes e investidores ontem em São Paulo, na abertura do Brazil Investment Forum, promovido pelo Banco Bradesco de Investimento (BBI).

Trabuco Cappi também voltou a bater na tecla de que o modelo de financiamento à infraestrutura sustentado pelo Tesouro — que financia o BNDES, que financia a maior parte dos projetos — já se esgotou. “Precisamos de uma maior participação da iniciativa privada, do mercado de capitais e dos bancos estrangeiros”, diz. Para ele, há interesse: “É uma pena desperdiçar a oportunidade atual, com juros zero no exterior”, diz.

Mas, para atrair esses recursos, o investidor precisar voltar a ter confiança na contabilidade do Brasil — o que depende do ajuste fiscal. “O setor privado não pode arcar com três riscos simultaneamente: o risco de prazo, de taxa e de crédito. A discussão sobre o país perder ou não o grau de investimento dado pelas agências de rating precisa sair do horizonte”, diz. “Não vejo essa situação sendo revertida logo. Mas sou otimista. Minha intuição diz que o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, será aprovado pelo Congresso”, acrescentou.

Levy era executivo do Bradesco antes de ir para a Fazenda — ele presidia a Bradesco Asset Management (Bram). Antes dele, Trabuco Cappi havia sido convidado pela presidenta Dilma Roussef para o cargo, mas declinou.

Trabuco Cappi também comentou a exposição do banco aos empréstimos da Sete Brasil, empresa de leasing de sondas para exploração do pré-sal pela Petrobras. O memorando que rola o empréstimo ponte para a Sete Brasil pelos bancos credores por mais 90 dias já está quase pronto. O Bradesco está tranquilo quanto às garantias e está provisionando as perdas”, diz. O executivo lembrou que além do Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN), os próprios contratos da Petrobras com a empresa também garantem os empréstimos concedidos.

E explicou que, se o momento fosse outro, não o de ajuste fiscal, os bancos poderiam recorrer a essas garantias — mas como não é o caso, acharam melhor dar mais 90 dias de prazo.

Mas o presidente do Bradesco admite que todo o modelo da cadeia de óleo & gás, assim como do setor elétrico e de açúcar e álcool, precisa ser revisto. “A retomada do PIB passa por isso. Somente em óleo & gás são 80 mil empresas, que hoje estão tentando conseguir equacionar suas ‘contas a pagar’”.

O presidente do Bradesco disse também que o banco dará todas as informações sobre sua exposição em relação à construtora OAS e outras empreiteiras na divulgação do balanço do primeiro trimestre, que sai em 20 dias. “Mas estamos tranquilos”, disse.

Trabuco Cappi também falou das conquistas do banco, mesmo em época difíceis, pela “solidez financeira, força do patrimônio e conservadorismo”.

“O Bradesco teima em crescer mesmo durante as crises. Acredito que isso se deve ao alto grau de comprometimento com os nossos clientes e à crença no potenci<MC0>al de crescimento do Brasil”, disse Renato Ejnisman, diretor do Bradesco BBI.

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