Para Érico Ferreira, da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, a piora da qualidade das carteiras é fruto da desaceleração da economia, do superenvidividamento e da inflação
Por: Léa de Luca
Este ano será difícil para quem dá crédito, com aumento da inadimplência e queda dos volumes. A opinião é do presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Ferreira. “Não sei quanto, mas que a inadimplência vai subir, vai”. A piora da qualidade das carteiras, segundo o executivo, é fruto da desaceleração da economia, do superenvidividamento e da inflação. No caso dos veículos, a situação é séria, diz: “Com o fim da isenção do IPI, o mercado caiu na real”.
Por que o senhor diz que o mercado de financiamento de veículos “caiu na real”?
O governo criou um mercado artificial para a venda e financiamento de veículos, com a redução dos impostos como IPI. Mas esse incentivo tem um limite, as pessoas não vão trocar de carro todo ano. Primeiro porque já estão endividadas, e depois porque a inflação está alta, corroendo a renda das pessoas; e com a atividade econômica desaquecida, o desemprego deve começar a aumentar. O ano passado foi melhor do que 2013, mas este ano será pior. A inadimplência vai aumentar, e os volumes emprestados vão diminuir.
O mercado já sente sinais da piora das condições?
Sim, empresas e governos estão deixando de pagar – os governos do Rio e Alagoas estão ficando com o dinheiro do consignado que deveriam repassar aos bancos que adiantaram os recursos aos funcionários públicos, por exemplo. Eu sou presidente da financeira Omni e tenho dois representantes em Brasília, onde estive nesta semana. A produtividade deles caiu em dois meses. E não mudou nada na sua forma de trabalhar, mas o governo está sem dinheiro e não paga os funcionários. Como essa gente que tomou empréstimo vai pagar, se não recebe? Primeiro vai comer, depois pagar o aluguel – prestação vem por último. Por isso digo que a inadimplência vai subir, tenho certeza que vai, só não sei quanto. A atividade econômica diminuiu e vai diminuir mais ainda, e com menor renda as pessoas não compram nada novo e não pagam o velho.
E quando o senhor acha que a situação pode melhorar?
A partir do momento que parar de piorar. Todo o impacto da alta do dólar, que não é pequeno, nem começou a ser repassado para a economia. O ano passado foi bom, mas ninguém vive do passado. Agora, por exemplo, temos que seguir uma nova lei em São Paulo que manda notificar o inadimplente e esperar 15 dias antes de negativá-lo. Ou seja, a inadimplência vai subir e vai ficar mais difícil para cobrar. Os políticos fazem esse tipo de lei sem preocupação de ouvir a outra parte para saber o impacto no negócio. O Brasil é inviável, entre outras coisas pela quantidade de leis criadas todos os dias. Imagine se o Brasil passasse um ano sem nenhuma nova lei, que maravilha. A CNF (Comissão Nacional das Instituições Financeiras) monitora atualmente 5,4 mil projetos de lei que afetam o mercado financeiro de alguma maneira.
Então quer dizer que a ascensão das classes no Brasil foi em vão…?
Foi ótimo, mas o problema é que não há um modelo que sustenta isso. Não ter pobres no país é maravilhoso mas como fazer isso de forma sustentável? A política de aumentar salários além da inflação está completamente errada. Ouvi na semana passada uma palestra de um executivo do Hay Group dizendo que em 10 anos o Brasil dobrou os salários e os Estados Unidos aumentaram 27%. Enquanto isso, a produtividade aumentou 3% aqui e 66% lá. Isso é inviável. Aumentar o salário e não a produtividade resulta em aumento de custos para as empresas.
A situação ruim pode representar uma oportunidade para as instituições de porte menor?
Sim, os bancos pequenos e médios podem ocupar espaços deixados pelos grandes bancos. Mas isso implicaria em correr mais riscos, e também é preciso conseguir captar recursos para emprestar. Esses riscos se compensam com taxas mais altas. Mas é preciso ter estômago. Outro dia o presidente de um grande banco me disse que a situação das empresas envolvidas na Operação Lava Jato é muito grave, e que só iria sobrar duas ou três empreiteiras. Se a pessoa perde o emprego não vai pagar. Se a empresa cliente do banco é fornecedora de uma empreiteira que quebrou ela deixa de faturar, e de pagar o empréstimo. E não somos mafiosos, não temos como cobrar os empréstimos à força. Quando a inadimplência cresce, são as instituições que arcam com os prejuízos.
Qual é a saída então para as instituições menores?
Temos 64 associados na Acrefi, e metade é pequena e média. Para estas, a saída é explorar nichos. Na Omni, por exemplo, atuamos no nicho de carros usados com mais de dez anos. O problema é que quando surge um novo negócio rentável, os grandes bancos entram – e não dá para competir com os grandes, por que eles tem custos mais baixos e rede de distribuição. O último exemplo de nicho rentável foi o crédito consignado, que foi inicialmente explorado por bancos médios e que agora está dominado pelos grandes. O consignado deixou de ser um nicho.
E qual é o novo nicho a ser descoberto e explorado pelas pequenas e médias ?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares!
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O Sr Eric o esta coberto de razão, a famosa bolha de endividamento que surgiu em outros países, aqui no Brasil apareceu neste modelo de economia virtual e política, pois foi necessário para o Governo manter pacotes de falsos incentivos para garantir a reeleição, só que a conta desta virtualidade chegou, e quem sofre são sempre as menores instituições, empresas de prestação de serviços menores, e aí vem o efeito dominó, a inadimplencia tem vindo efêmero uma crescente, e o pior que esta inadimplencia não é boa, ou seja de recuperação saudável, mas é o endividamento de uma economia cheia de incentivos fictícios onde a conta já esta chegando.