Por: Carolina Mandl e Felipe Marques
Projeções traçadas pelas agências de classificação de risco indicam que os bancos brasileiros começarão 2015 com uma maior chance de ter suas notas de crédito rebaixadas ao longo do ano. A Moody’s e a Fitch Ratings atribuem uma perspectiva negativa ao setor bancário no ano que vem. Já a Standard & Poor’s (S&P), que rebaixou grande parte dos bancos brasileiros em 2014, vê estabilidade no próximo ano, com algumas pressões negativas.
O efeito prático de uma expectativa de novos rebaixamentos nas principais agências é a possibilidade de os bancos pagarem mais caro para captar recursos.
Com a promessa de um período difícil para a economia brasileira em 2015, as agências preveem que os bancos devem enfrentar no próximo ano dificuldades como níveis mais elevados de inadimplência, margens pressionadas e espaço limitado para a expansão do crédito – tanto pelo maior risco, como por uma redução adicional de demanda.
Os mais atingidos pelo cenário mais adverso, segundo a avaliação da Fitch, devem ser os bancos públicos, cujas carteiras de crédito tiveram forte expansão nos últimos anos, e os de pequeno e médio portes, pouco diversificados e com mais dificuldade de acesso a fontes de captação. Enquanto isso, os grandes bancos com grau de investimento devem manter “um bom perfil financeiro”. Mesmo assim, podem ter surpresas negativas no campo da inadimplência.
“Apesar de a qualidade dos ativos dos bancos brasileiros não ter mostrado sinais claros de deterioração ao longo de 2014, melhoras vistas nos bancos privados podem ser facilmente revertidas se as condições econômicas se mantiverem desaceleradas”, diz a Fitch em relatório assinado pelos analistas Eduardo Ribas e Claudio Gallina.
Por outro lado, a Fitch prevê que receitas de serviços podem beneficiar bancos como Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil, neutralizando problemas com o crédito. “Depois de outro ano de crescimento do crédito limitado, os bancos brasileiros terão de encontrar outros caminhos para preservar a lucratividade”, afirma a Fitch.
O problema é que tais caminhos alternativos – como as tarifas com cartões e seguros – podem esbarrar também na morosidade da economia. “O crescimento da rentabilidade dos bancos em 2015 vai ser impactado por uma menor capacidade de geração de receitas, em um cenário econômico adverso”, afirma Alexandre Albuquerque, analista da Moody’s. Dos países da América Latina, apenas os bancos de Brasil, Argentina e Bolívia têm perspectiva negativa para o ano que vem na visão da agência. Nos demais, é estável.
Para a Moody’s, a pressão na qualidade de crédito deve se manifestar em produtos de maior risco, como cheque especial, cartão de crédito e crédito pessoal não-consignado. Já na pessoa jurídica, o encarecimento das taxas de juros de capital de giro tendem a diminuir ainda mais a demanda das empresas por crédito, afirma Alcir Freitas, analista sênior da Moody’s.
Na visão da S&P, a tendência para o risco do sistema financeiro por si só, sem considerar o ambiente macroeconômico, é negativa para o ano que vem. A razão são as distorções que persistiram no sistema financeiro após o forte movimento dos bancos públicos nos últimos anos, diz Sergio Garibian, analista da agência. “Os bancos públicos ainda devem crescer mais no ano que vem, mas o ganho de participação de mercado tende a ser menor”, afirma. Ele pondera que a nova política econômica deve influenciar o desempenho.
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