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Trabalhar com horário fixo me causa arrepios

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Exame
03 de junho de 2014 - 18:02

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Por: Marcelo Cuellar

Conrado Navarro (@navarro) mineiro de Itajubá, decidiu deixar sua carreira de 6 anos na área de gestão de sistemas em multinacionais para empreender.  Apaixonado por investimentos e finanças, decidiu fazer um MBA em Finanças, e decidiu tornar sua vida financeira melhor, mais equilibrada e mais rica. Navarro é sócio fundador do Dinheirama (@dinheirama), blog referência sobre finanças e investimentos pessoais.

Abaixo, você conhecerá como foi a trajetória de quem não queria ter horário fixo para trabalhar.

1. Como foi largar tudo e começar um negócio próprio baseado em um sonho?

Tomar a decisão foi fácil, implementá-la exigiu muito esforço. Largar tudo e correr atrás do que eu queria significou quebrar um tabu familiar. O foco na estabilidade e a garantia de um salário mensal deixariam de ser parte do meu dia a dia e muitos familiares não viam com bons olhos essa mudança.

Mas a verdade é que eu me preparei para a transição: fiz uma reserva financeira ao longo de um tempo e exerci duas jornadas por quase dois anos. Foram tempos de muito trabalho, dedicação e solidão. Todo o esforço valeu a pena!

2. Foi mais uma decisão racional ou movida pela paixão de seguir seu faro para os negócios?

Fazer o que você gosta e viver de acordo com seus sonhos nunca serão decisões racionais quando esse estilo de vida está relacionado ao empreendedorismo.  Minha decisão foi movida pelo desejo de fazer mais, melhor e diferente. Foi passional, sem dúvida.

Portanto, acredito que é importante que a paixão tenha seu lugar na vida do empreendedor. Mais que isso, acho fundamental imprimir paixão em tudo que fazemos; quando não conseguimos agir assim, é provável que haja algum problema.

3. Nesta trajetória do Dinheirama, teve algum momento em que você julgou ter feito a escolha errada?

Sim, muitos! E muita coisa deu errada, o que alimentava ainda mais a sensação de que o caminho escolhido não era o melhor ou mais adequado. Gosto muito dos conceitos criados por Seth Godin e apresentados no livro “O Melhor do Mundo”. Eu já cheguei a achar que fiz a escolha errada, mas nunca encarei isso como atalho para deixar de sonhar e viver uma vida mais normal, igual todo mundo. Fazer a diferença é o que faz sentido para mim. Se me lembro bem, foram dois convites. As oportunidades eram excelentes, mas não fiquei muito animado não. A liberdade que construí a partir do meu trabalho me permite passar horas e dias me dedicando a atividades pessoais sem prejudicar o andamento da empresa. Essa flexibilidade ainda é uma utopia em muitas empresas.

4. Durante a trajetória do Dinheirama, você recebeu algum convite para voltar ao mundo corporativo? Balançou?

Além da ideia de trabalhar com horário fixo me causar arrepios, ter um limite de receita (pressuposto de um emprego tradicional) limita meu processo criativo e minha energia em busca de novos desafios. Há alguns anos fui diagnosticado TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e depois de muita terapia, leituras especializadas e pesquisa descobri que esse tipo não se adapta às regras tradicionais do trabalho. A saída para nós é empreender.

5. Qual foi o maior aprendizado que este experiência de fundação do Dinheirama lhe trouxe?

Aprendi que o empreendedor brasileiro é realmente alguém diferente. Abrir um negócio e fazê-lo prosperar neste país requer cuidados grandes, além de muito conhecimento específico (leis, regras, questão tributária etc.). Aprendi também a valorizar ainda mais a importância das pessoas, independentemente de sua posição social ou cargo.

A grande lição, no entanto, foi mais simples: empreender não é coisa de especialista ou gente maluca. A diferença entre quem “chega lá” e quem perece está na interpretação dos fatos: quem venceu também já pereceu muitas vezes, mas insistiu.

Eu mesmo tentei por três vezes empreender, sem sucesso. Tentei emplacar um livro em mais de uma dezena de editoras, sem sucesso. Eu FRACASSEI! E que bom que aprendi algo com isso tudo.

6. Qual – na sua opinião – foi o fator decisivo para o sucesso do Dinheirama e o seu como profissional?

A característica pessoal que gosto de destacar é meu modo de lidar com as frustrações e problemas.  Dificilmente morro abraçado a uma ideia, simplesmente porque meu compromisso é mesmo com a construção de um estilo de vida agradável e centrado nas minhas ambições. Além disso, destaco alguns pontos que, acredito, foram também essenciais: habilidade de comunicação, que sempre criou excelentes possibilidades de conhecer novos profissionais e realizar trabalhos/parcerias de qualidade; insistência, que no meu caso pode ser interpretada como não ter medo de ouvir “não” – eu posso ser bem chato quando quero conseguir algo; e trabalho, muito trabalho, o que é fundamental em qualquer área.

7. Qual recado final você deixaria aos leitores?

Sonhe, queira sempre mais, mas nunca se esqueça de três coisas: 1) Ame as pessoas, todas elas (inclusive as que o criticam), porque elas são a única ponte para o sucesso; 2) Fracasse com mais frequência, mas tire desses desafios lições; e 3) Priorize sempre a família, porque ela é a base para suas tentativas e é quem o receberá de braços abertos, seja na vitória ou na derrota.

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