Por: Fernando Paiva
De Campinas para o mundo: nascida 15 anos atrás como mais uma start-up que orbitava em torno da Unicamp, a Compera cresceu, fundiu-se com outras empresas do mercado de conteúdo móvel brasileiro ao longo do caminho (como nTime e Yavox) e expandiu-se para toda a América Latina. Agora, com o lançamento do app infantil Playkids, começa uma nova fase, cujo objetivo é se tornar uma marca global. Dentro de dois anos, projeta que mais da metade do seu faturamento virá do exterior. Paralelamente, planeja novas aquisições no curto prazo, principalmente no segmento de m-commerce na América Latina. MOBILE TIME entrevistou o presidente e fundador da Movile, Fabrício Bloisi, sobre os planos estratégicos da empresa para o futuro.
MOBILE TIME – A Movile é o resultado de um processo de consolidação com várias empresas, algumas delas focadas em SMS, como a nTime e a Yavox. Os serviços de SMS ainda são o carro-chefe da empresa em receita?
Fabrício Bloisi – As operadoras dizem que o SMS está sofrendo com OTTs, mas para a gente ainda cresce bastante, principalmente o SMS corporativo. Podemos conectar empresas em toda a América Latina, do México à Argentina, com todas as teles. Empresas estão criando mais canais de SMS, com preços menores e volumes cada vez maiores. Em termos de serviços para o usuário final, realmente o SMS não cresce tanto, porque tem muito mais oferta hoje ligada a smartphone. Uma outra área da Movile que envolve SMS e que vem crescendo é a de pagamentos através do celular, operacionalizados por meio de mensagens de texto. Integramos muitos jogos com pagamento via SMS. E há também a utilização do SMS dentro de um modelo multi-interface: o usuário é lembrado por SMS mas consome o conteúdo de várias maneiras, como HTML5, voz etc. No curso de português do Professor Pasquale, produto de educação que temos com a Vivo, por exemplo, o conteúdo é enviado por SMS e o usuário pode acessar um site em HMTL5 ou ouvir a aula do dia no portal de voz. A percepção geral é que o SMS está maduro e hoje é parte do pacote, que inclui URA, HTML5 etc. Solução pura de SMS não lançamos mais.
Como divide o portfólio de serviços da Movile hoje?
A maior área é a de conteúdo móvel. Tem também as áreas de pagamento móvel (para bens virtuais que estão na internet ou no celular); mensagens corporativas; e mobile commerce, que conecta o mundo real ao virtual. Em m-commerce, o nosso primeiro grande caso é o iFood, que um ano atrás representou a inserção da Movile nesse segmento. Temos outros serviços de m-commerce à vista. [Nota do editor: iFood é um app brasileiro de delivery de comida adquirido pela Movile.]
Nos últimos anos a empresa deu atenção especial ao desenvolvimento de aplicativos móveis. A receita com apps vai superar aquela com SMS no futuro para a empresa?
Vai demorar um pouco ainda. Pelo menos dois ou três anos. A diferença é que cresce muito rápido. Mas o outro negócio é mais maduro. Hoje, o esforço da Movile está muito centrado em smartphones. Não pensamos mais projetos sem apps. Em smartphone é mais agradável consumir conteúdo. Mesmo os projetos white label para as teles vêm com apps de smartphone. Temos hoje uma área de conteúdo global, na qual o app infantil Playkids é o principal produto – no Brasil adotamos a marca Ideias Kids, com a Claro. Nos próximos dois anos esperamos que 50% da nossa receita venha de fora do Brasil. Em m-commerce, hoje 55% das vendas do iFood são móveis. As empresas americanas fazem menos que isso e lá a penetração de smartphones é de 65%. Aqui é 35%.
Qual o melhor modelo de negócios para apps, na sua opinião?
Depende do produto. A gente faz de tudo: assinatura, pay per download, publicidade. Em produtos mais gratuitos tem mais propaganda. Estamos em fase de descoberta: é preciso explorar todos os modelos. Nós não somos monogâmicos em termos de modelo de negócios. Não existe um único modelo vencedor ainda.
Qual será o próximo app global da Movile depois do Playkids?
Temos 15 no pipeline e o que der mais certo a gente vai escalar. Não posso citar quais são.
Para o promover o Playkids, a Movile fez uma campanha na TV, com comercial em canais infantis, como Discovery Kids. Poucos apps se aventuraram a explorar mídia de massa até agora no Brasil. Que resultados a Movile obteve com essa campanha?
Só posso dizer que crianças felizes nos fazem felizes. Foi uma campanha divertida. O mote era “seus dedinhos vão mudar o mundo”. Estamos ajudando a formar a próxima geração de pessoas. Foi um teste divertido que fizemos. Pretendemos fazer nos EUA uma campanha na TV também para o Playkids. Estamos negociando com várias agências neste momento.
A dependência das operadoras está diminuindo para empresas como a Movile. Isso é bom ou ruim?
As operadoras estão migrando muito bem para o novo mundo de smartphones. Todas têm várias iniciativas e a Movile está colaborando com elas nessa transição.
A Movile foi uma das primeiras empresas de SVA brasileiras a ter presença no exterior. Como está hoje a atuação fora do Brasil? Onde estão presentes e com quais serviços?
A Movile se internacionalizou fortemente há três anos. O resultado foi muito positivo. Hoje 35% da receita da Movile vem do exterior. E nossa meta é chegar a 50% em dois anos. A Movile está caminhando para ser uma empresa global. O primeiro foco é ser líder regional e estamos indo bem em toda a América Latina. Temos dez escritórios, dos quais seis estão localizados fora do Brasil. Além da atuação em toda a América Latina, abrimos um escritório no Vale do Silício. Lá estamos em contato com players norte-americanos, promovemos alguns produtos a partir da Califórnia, o que foi um passo importante. Estamos muito animados em ir para o mundo. O mercado de aplicativos oferece uma oportunidade global, não mais regional como era antes. Cabe aos players brasileiros entender como se posicionar no mundo. A Movile optou por apostar em app com marca própria, começando com o Playkids. Hoje, esse app é o quinto aplicativo que mais gera receita para crianças nos EUA em iOS. E somos top 5 na Alemanha, na Espanha, na França, no Reino Unido e na Austrália. A todo, o Playkids já é usado em 102 países.
Em qual mercado externo estão obtendo os melhores resultados e porquê?
No México, por causa da parceria com a América Móvil. Tudo está indo bem lá: conteúdo, pagamentos, mensagens, Ideias Kids…
A Movile tem um histórico de aquisições. A mais recente foi a iFood. Qual será a próxima?
Vamos fazer duas ou três aquisições no Brasil no primeiro semestre e um pequeno investimento na África do Sul, em uma empresa de m-commerce local. Além disso, analisamos atentamente investir na Colômbia, na Argentina e no México, especialmente no segmento de m-commerce, similar ao iFood.
Tem dinheiro em caixa para essas novas aquisições ou vai precisar financiar?
A Movile tem capacidade de investimento para fazer essas aquisições.
De quanto é a receita anual da Movile?
Posso dizer apenas que a Movile vem crescendo 70% ao ano nos últimos cinco anos.
Quinze anos atrás, a Movile nascia com o nome de Compera, na forma de uma start-up em Campinas. Hoje é uma das maiores empresas de SVA da América Latina. Com a experiência que adquiriu ao longo desse tempo, que conselho daria para uma start-up móvel brasileira hoje?
Pense grande. Estamos no melhor lugar, na melhor época do mundo. O mobile está só começando. O que fizemos nos últimos dez anos é só o começo. O mundo será dez vezes mais móvel nos próximos cinco anos, quando haverá 6 bilhões de smartphones em serviço. Haverá empresas maiores que Google, Apple e Facebook daqui a cinco anos, com base de bilhões de usuários, e serão companhias que estão começando agora. A oportunidade é maior do que parece, maior do que os brasileiros pensam. O Vale do Silício é tão bom quanto o Brasil. A diferença é que lá começam pensando globalmente. E aqui se pensa em mercados locais. Há espaço para o nascimento de empresa móveis enormes brasileiras. Pensem nisso porque a oportunidade nunca foi tão grande.
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