Por: Chris Vellacott
Os bancos estão falhando em conter os excessos na remuneração dos executivos de segundo escalão, apesar da reação pública contra uma cultura de pagamento de bônus acusada de ter contribuído para a crise financeira, dizem importantes investidores.
Embora o ativismo acirrado de alguns acionistas e as pressões políticas surgidas com a crise global e o escândalo de manipulação da taxa Libor tenham levado altos executivos a abrir mão de seus bônus, os funcionários abaixo da diretoria estão livres dessas restrições.
No Reino Unido, que concentra os bancos de investimento globais, a temporada anual de balanços mostrou aumento do volume de bônus, o que irritou acionistas. Os investidores não têm poder de veto sobre as gratificações do segundo escalão, mas podem manifestar sua insatisfação votando por reduzir a remuneração da diretoria. “Parece que as promessas que nos fizeram foram abandonadas”, disse um gestor de fundos com participações em diversos bancos britânicos, entre eles o Lloyds, o Barclays e o HSBC.
O Barclays elevou em 13% os bônus da sua área de banco de investimentos em 2013, apesar de o lucro ter caído. Isso provocou críticas generalizadas. A associação empresarial Institute of Directors disse que a política do Barclays põe em questão se o banco é administrado para benefício dos acionistas ou da sua equipe. “Parece incrível que, na hora em que os lucros do banco de investimento caem, eles elevem os bônus”, disse Martin Gilbert, executivo-chefe da Aberdeen Asset Management.
HSBC e Lloyds também elevaram os bônus. Fora do Reino Unido, o suíço UBS ampliou o montante em 28%. Nos EUA, Morgan Stanley, Bank of America (BofA) e J.P. Morgan elevaram a remuneração de pessoal em 6,6%, 7,5% e 3,8%, respectivamente, enquanto o Goldman Sachs a reduziu em 4%.
O principal executivo do Barclays, Antony Jenkins, disse ter sido obrigado a elevar os bônus para dissuadir funcionários essenciais de desertar para a concorrência. Mas o argumento não impressiona investidores. “Essa é a história que eles sempre vendem. Alguém deveria testar a cara de pau deles”, disse um acionista do Barclays com participações também no Lloyds, RBS e HSBC. “Muitos executivos estão fazendo a coisa certa ao moderar sua remuneração e recusar bônus. É o segundo escalão que ainda parece fora de controle.”
O RBS, nacionalizado em parte após o resgate de 2008 e hoje operando no vermelho, sob pressão para restaurar sua imagem, contrariou a tendência e reduziu em 15% os bônus pagos em 2013. Alguns investidores dizem que os críticos dos bônus perderam o foco, pois a remuneração dos executivos hoje está sob fiscalização mais atenta e os pagamentos dependem da aprovação dos acionistas, de acordo com a nova legislação. “Houve mudanças na relação entre conselho e acionistas, porque agora há o voto obrigatório sobre a remuneração”, disse Dominic Rossi, diretor global de investimentos em renda variável da Fidelity Worldwide Investment.
Jenkins, do Barclays, abriu mão de seu bônus de 2012, ao reconhecer o envolvimento do banco no escândalo da Libor. Ross McEwan, nomeado presidente-executivo do RBS em 2013, disse que abriria mão de seu bônus enquanto se empenha em recuperar o banco. Mas investidores retrucam que essa mudança só se aplicou à cúpula das instituições listadas em bolsa, obrigadas a detalhar os pagamentos e a submetê-los aos acionistas.
Dados da Autoridade Bancária Europeia corroboram a ideia de que a redução de bônus não afeta o escalão intermediário. Em 2012, 3.529 executivos de bancos na UE auferiram ao menos € 1 milhão, 11% a mais que em 2011. Mas Rossi, da Fidelity, diz que os bancos começaram a diferir o pagamento dos bônus e a pagar mais em ações do que em dinheiro, condicionando o prêmio ao desempenho de longo prazo. “Houve mudanças e o engajamento entre bancos e acionistas nunca foi tão forte”, disse.
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