Em Fortaleza, pela segunda vez seguida, o nível de endividamento apresentou elevação, motivado ainda por compras de fim de ano, juntamente com impostos anuais e despesas escolares – sendo esses dois últimos -, herdados do mês de janeiro, para muitos consumidores. Essa situação está sendo vivenciada por 66,2% dos fortalezenses que afirmaram possuir, neste mês de fevereiro, algum tipo de dívida. O índice é maior em 0,7% sobre o mês de janeiro (65,5%), segundo a Pesquisa Sobre Endividamento do Consumidor de Fortaleza, divulgada, ontem, pela Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio-CE).
De acordo com o IPDC (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio) – ligado à Fecomércio-CE -, o resultado de fevereiro está dentro do previsto, tendo por base a série histórica da pesquisa, embora esteja acima da média. “O consumidor sentiu tanto o aumento dos impostos anuais, como utilizou mais crédito nas compras de liquidações de início de ano, o que fez com que esse impacto de fevereiro tenha sido maior do que o observado em outros anos, apesar de ser natural esse crescimento”, destacou o economista e diretor técnico do IPDC, Alex Araújo.
COMPROMETIMENTO
A proporção dos consumidores com contas ou dívidas em atraso teve aumento de 0,1%, passando de 15,1%, em janeiro, para os atuais 15,2%, enquanto que o tempo médio de atraso permaneceu em 61 dias. A principal justificativa, para que os consumidores atrasem suas contas, é o desequilíbrio financeiro – a diferença entre a renda e os gastos correntes – citado por 66,3% dos consumidores.
Os instrumentos de crédito mais utilizados por eles são os cartões de crédito, citados por 83,3% dos entrevistados; financiamento bancário (veículos, imóveis, etc…), com 12,3%; carnês e crediários (9,2%); e empréstimos pessoais, com 8,2% das respostas. O valor médio das dívidas é estimado em R$ 1.142,00, sendo que o prazo é de seis meses, comprometendo 27,8% da renda familiar.
A pesquisa aponta que esse endividamento foi influenciado por compras de itens de alimentação (45,1% das respostas), seguido de artigos de vestuário (44,2%), eletroeletrônicos (36,5%), e despesas com educação e saúde (24%). Além disso, “a ampla oferta de financiamento tem modificado o perfil do endividamento do consumidor de Fortaleza, ainda que se concentre no curto prazo, com 78,8% das dívidas em prazos inferiores a um ano”, diz o IPDC.
INADIMPLÊNCIA
Por outro lado, a taxa de inadimplência potencial – proporção de consumidores que não terão condições financeiras para honrar seus compromissos – recuou 1,9%. Este mês, a taxa chegou a 4,3%, contra 6,2% apresentado em janeiro. Quanto ao perfil do consumidor inadimplente, há preponderância do grupo de consumidores do gênero feminino (5,3%), com idade entre 25 e 34 anos (5,7%) e renda familiar inferior a cinco salários mínimos (4,6%), “inspirando cuidados, principalmente, nos grupos com menor renda e maior dependência do mercado de trabalho”, ressalta a pesquisa.
A Pesquisa de Endividamento também revela que 78,9% dos consumidores de Fortaleza afirmam fazer orçamento mensal e acompanhamento eficaz dos seus gastos e rendimentos, o que contribui para um melhor controle dos níveis de endividamento. 10,9% relataram que fazem orçamento dos rendimentos, mas sem controle eficaz dos gastos e 10,2% dos entrevistados informaram não possuir orçamento e tampouco controle dos gastos. A pesquisa toma por base dados coletados, mensalmente, com cerca de mil consumidores da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
IPDC APONTA ALTERNATIVAS PARA NÃO SE ENDIVIDAR
O economista do IPDC atenta para que o consumidor já endividado evite novas compras. “O endividamento, principalmente com os juros que temos no Brasil, é como uma bola de neve, que só tende a aumentar. Com isso, é recomendado, para quem já tem um comprometimento expressivo da renda com o pagamento de dívidas, evitar novas dívidas”. Para os que desejam, mesmo assim, ir às compras, Araújo reforça a importância do planejamento da nova compra, além da consciência “muito clara” de como o pagamento das prestações vai afetar sua renda mensal, “e já ter um plano alternativo para, em alguma eventualidade, que tipo de ação ele possa ter, como alguma despesa que possa ser cortada no mês, ou uma poupança que possa usar, eventualmente. É muito importante que o consumidor atente para a saúde financeira, por conta de problemas eventuais que venham repercutir nas finanças”, assevera Alex Araújo.
Por outro lado, para quem extrapolou o orçamento, contraindo dívidas maiores que a renda mensal, o economista dá a seguinte orientação: “Primeiro, esse consumidor deve ter maior atenção às dívidas muito caras, como cartão de crédito e cheque especial. Como os juros dessas operações são muito elevados, o potencial que ele tem de consumir parte expressiva da renda é muito grande. Essas dívidas devem ser priorizadas e, em vários casos, os credores oferecem opções de negociação. Em muitos desses casos, como no cheque especial, o próprio banco oferece condições de refinanciamento mais barato que os juros desse cheque. É importante que o consumidor busque essas alternativas”, recomenda o economista.
Em segundo lugar, os consumidores endividados devem evitar contrair novas dívidas, fazendo um esforço de organização para os meses seguintes. “É importante que o consumidor olhe para esse horizonte mais longo, e veja qual a perspectiva de saída dele, fazendo, nos meses seguintes, um regime, no sentido de dieta de despesas. O consumidor deve controlar suas despesas, para que esse endividamento não vire um problema para ele e para a família”, finaliza o diretor técnico do IPDC.
Preocupação
O diretor técnico do IPDC, economista Alex Araújo, informa que a queda do índice do potencial de inadimplência mostra preocupação dos consumidores com relação ao orçamento familiar. Além disso, “mostra também, que aquele consumidor cujas dívidas tiveram raízes nas compras de final de ano, e já tinha problemas com orçamento em dezembro, não fez novas compras em janeiro”. Esse comportamento, acrescenta Araújo, contribuiu para a redução da taxa de inadimplência potencial. “Já os consumidores que tiveram alguma folga, continuaram comprando”. No entanto, ele acredita que a tendência, até abril, é de redução do nível de endividamento e inadimplência. “Os números nos próximos meses tendem a cair, voltando a subir entre maio e junho. Como é comum, entre fevereiro e abril, ter uma demanda menor – o que colabora para que o nível de endividamento caia -, os índices só voltam a subir próximo ao Dia das Mães”, observou o diretor.
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