Por: Felipe Marques, Carolina Mandl e Karin Sato
A greve dos bancários, hoje completando seu vigésimo primeiro dia, já deixa suas marcas no crédito. Grandes instituições relatam queda nos desembolsos em setembro, tanto em linhas de pessoa física como em pequenas e médias empresas, causada pelo fechamento de agências.
A paralisação agrava um quadro de demanda mais fraca por crédito que se arrasta por 2013. Ao mesmo tempo, a perspectiva de ceder às demandas sindicais e aumentar os gastos com pessoal pressiona os esforços dos bancos por maior eficiência na gestão de despesas.
De acordo com o executivo de um dos cinco maiores bancos de varejo do Brasil, os desembolsos de empréstimos em setembro recuaram 11% na comparação com agosto, puxados em grande parte pela greve dos bancários. “E olha que em setembro foram apenas dez dias de greve”, afirmou.
Até mesmo o consignado, que costuma ser originado fora da agência bancária pelos promotores de crédito, mais conhecidos como “pastinhas”, vem sofrendo com a greve. Um banqueiro de uma instituição de médio porte relata que sua originação na linha caiu 6% na comparação mensal.
No caso do consignado, os problemas se concentram em convênios de servidores públicos que ainda não foram automatizados, em que as operações de crédito originadas precisam passar pelas agências. Isso ocorre principalmente em pequenas e médias prefeituras, que, embora não representem grandes volumes individualmente, somam valores na casa dos R$ 5 bilhões de saldo juntas.
Outras linhas impactadas pela paralisação são os empréstimos para empresas, em especial as de pequeno porte. O que relatam os bancos é que, nesses casos, os clientes têm o hábito de negociar taxas e melhores condições de empréstimos de capital de giro e desconto de duplicatas nas agências – em especial os comércios. “No sufoco, eles estão contratando por telefone em agências com funcionamento interno.”
Sem abrir seus números, um banco de varejo estrangeiro relata que as modalidades de crédito mais afetadas são as voltadas para pequenos negócios, principalmente no varejo, e pessoas físicas. “Uma semana de greve não chega a ter tanto impacto na produção para empresas. Isso porque recomendamos aos gerentes que visitem seus clientes. Mas depois disso já se sente o reflexo”, diz o diretor dessa instituição.
O que pondera outro executivo de um banco de varejo é que greves anteriores mostram que a paralisação apenas represa empréstimos, que são fechados nos meses seguintes. “A empresa ou o indivíduo não deixam de precisar de crédito. Podem adiar essa demanda, mas ela continua lá. Acabou a greve, ela deságua”, afirma. “Não dá para dizer que passamos incólume pela greve, mas o efeito é temporário”. Na visão desse banqueiro, embora influenciado pela greve, setembro acabou sendo melhor que outros períodos do ano no crédito, graças à melhora da economia.
Para o analista da corretora GBM Brasil André Riva o efeito da greve deve se diluir. “Isso ficou muito claro em 2012, quando a greve durou cerca de dez dias em setembro. Naquele mês, houve uma queda, mas, no seguinte, foi registrada uma recuperação”, diz. Em setembro de 2012, indicador da Serasa Experian de demanda do consumidor por crédito recuou 16,5% ante agosto. Em outubro, porém, compensou parte da queda com alta de 17,2%. Neste ano, a queda em setembro foi de 9,8% em relação ao mês anterior.
Se o efeito negativo no crédito pode ser, ao menos em parte, temporário, o reajuste de salários acaba incrementando uma linha que os bancos têm feito de tudo para cortar: despesas com pessoal.
Nos cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco, Santander e Bradesco -, os salários dos funcionários representam entre 44,4% e 62% dos gastos administrativos totais, consumindo R$ 33 bilhões no primeiro semestre deste ano.
Pela proporção que a folha de pagamento tem nos balanços, os bancos têm sido duros nas negociações salariais. Para investidores e analistas, as instituições financeiras já comunicaram que suas despesas neste ano devem ficar em linha com a inflação ou até abaixo dela. Mas os bancos já sabem que os salários terão ganho real.
Apesar do reajuste salarial superior à inflação, o impacto no índice de eficiência – calculado a partir da divisão das despesas pelas receitas operacionais – deve ser nulo, segundo Mario Pierry, analista do Deutsche Bank. Analistas trabalham com um reajuste real de até 2 pontos percentuais.
Um dos possíveis beneficiados da greve são os correspondentes. Associação que reúne o segmento, a Aneps, observou aumento residual na procura pelo serviço. “Os correspondentes relatam que o público que os frequenta é diferente do que vai à agência”, diz Edison Costa, presidente da Aneps.
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